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Crítica

Little Simz

: "No Thank You"

Ano: 2022

Selo: Forever Living Originals / AWAL

Gênero: Rap

Para quem gosta de: Noname e slowthai

Ouça: Gorilla e Angel

7.8
7.8

Little Simz: “No Thank You”

Ano: 2022

Selo: Forever Living Originals / AWAL

Gênero: Rap

Para quem gosta de: Noname e slowthai

Ouça: Gorilla e Angel

/ Por: Cleber Facchi 26/12/2022

Em constante produção desde o início da década passada, Little Simz vive hoje uma de suas melhores fases. Passado o lançamento de Sometimes I Might Be Introvert (2021), trabalho que apresentou o som produzido pela artista a uma parcela ainda maior do público, a rapper britânica mergulhou em uma série de colaborações com a conterrânea Cleo Sol e parceiro de longa data, o produtor Inflo (Adele, Michael Kiwanuka). O resultado desse processo está na entrega do vasto repertório despejado pelo Sault nos últimos meses, incluindo uma recente leva com cinco registros de inéditas lançados simultaneamente.

Como se não bastasse o material revelado nos últimos meses, Simbiatu Ajikawo, verdadeiro nome da artista, decidiu encerrar o ano com mais um novo trabalho de inéditas em carreira solo, No Thank You (2022, Forever Living Originals / AWAL). Sem grandes surpresas, o registro de dez faixas é, como tudo aquilo que a rapper tem produzido desde a década passada, um verdadeiro espetáculo. Enquanto os versos se aprofundam em temas sentimentais e questões sobre amadurecimento pessoal, sobrevive na construção das batidas e bases uma extensão de tudo aquilo que Little Simz vem testando recentemente.

Segunda composição do disco, Gorilla talvez seja a melhor representação de tudo aquilo que a rapper busca desenvolver ao longo do trabalho. Inaugurada em meio a arranjos de metais e uma base funkeada que aponta de forma decidida para a produção dos anos 1970, a canção sustenta nos versos a passagem para um repertório essencialmente autobiográfico. São fragmentos poéticos que vão de encontro aos primeiros anos da artista, destacam diferentes conquistas pessoais e posicionam Little Simz como uma das gigantes do gênero. “Veja, eu sou o único no gorila / Simz está de volta, sim, ficou mais real“, detalha.

Vem dessa sensação de grandeza e minucioso processo de construção dos versos o estímulo para parte expressiva das canções que surgem ao longo do trabalho. Em No Merci, por exemplo, Little Simz parte de uma delicada reflexão sobre racismo (“Dando a eles nossa verdade e eles nos deram blackface / Por que você quer zombar da minha dor?“) para celebrar o povo preto (“Há muito tempo que carregamos a vergonha / Se soubéssemos que temos magia, colocaríamos agulhas em nossas veias?“). Composições que apontam para diferentes temáticas e discussões, porém, sempre ambientadas na mente da própria artista.

Não por acaso, parte expressiva das canções ganha forma em uma medida própria de tempo, levando a duração necessária para que Little Simz se aprofunde em pequenas inquietações, traumas e conflitos pessoais. Com pouco mais de sete minutos, Broken é um bom exemplo disso. Do coro de vozes que surge nos minutos finais da composição, passando pelo nítido refinamento dado aos arranjos, tudo parece pensado para potencializar os versos detalhados pela artista. “O que significa estar quebrado? A ferida está dolorosamente aberta / A beleza está em encontrar as partes mais escuras do oceano“, reflete.

Entre momentos de maior exposição e entrega emocional, Little Simz faz de No Thank You uma natural continuação de tudo aquilo que vem sendo explorado desde o amadurecimento artístico em Gray Area (2019). De fato, parte expressiva dos temas incorporados ao longo da obra parecem reutilizados pela artista. Mesmo a base instrumental e uso das batidas orquestradas por Inflo utilizam de uma série de conceitos há muito incorporados pelo produtor, proposta que diminui consideravelmente o impacto em relação ao trabalho, porém, preserva a potencia das rimas e evidente domínio criativo da rapper inglesa.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.