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Crítica

Loraine James

: "Gentle Confrontation"

Ano: 2023

Selo: Hyperdub

Gênero: Experimental, Eletrônica

Para quem gosta de: Tirzah e Laurel Halo

Ouça: Déjà Vu, I DM U e Gentle Confrontation

8.0
8.0

Loraine James: “Gentle Confrontation”

Ano: 2023

Selo: Hyperdub

Gênero: Experimental, Eletrônica

Para quem gosta de: Tirzah e Laurel Halo

Ouça: Déjà Vu, I DM U e Gentle Confrontation

/ Por: Cleber Facchi 12/10/2023

Gentle Confrontation (2023, Hyperdub), como tudo aquilo que tem sido explorado por Loraine James desde a década passada, é um campo aberto às possibilidades. Inaugurado pela atmosférica faixa-título, o registro logo muda de direção, abre passagem para a criativa desconstrução das batidas e uso cada vez mais destacado das vozes, direcionamento que tem sido incorporado desde a fundação do paralelo Whatever The Weather, aprimorado durante a apresentação de Building Something Beautiful For Me (2022), mas que alcança melhor resultado em parte expressiva das composições do presente trabalho.

Deliciosamente inexato, Gentle Confrontation, como o próprio título aponta, é uma obra que alterna entre momentos de maior provocação e sutileza. São composições que partilham de uma atmosfera bastante característica, efeito das ambientações enevoadas e forte similaridade no tratamento dado aos vocais, mas que assumem percursos independentes. Instantes em que James vai do pop introspectivo de 2003, com suas bases que parecem saídas de um disco de Oneohtrix Point Never, ao flerte com o rap em Tired Of Me, canção que mais uma vez amplia os limites do trabalho sem necessariamente comprometer o material.

Claro que isso está longe de parecer uma novidade para quem há tempos acompanha os trabalhos da artista inglesa. Desde a estreia, com Detail (2018), que James tem feito de cada composição um objeto a ser desconstruído criativamente. A diferença talvez esteja nos detalhes e na forma como a produtora segue em uma medida particular de tempo, inserindo e removendo componentes rítmicos. Exemplo disso pode ser percebido em Disjointed (Feeling Like a Kid Again), música que passeia em meio a batidas tortas, camadas de pianos e vozes que se aprofundam em experiências pessoais, sentimentos e recordações empoeiradas.

De fato, poucas vezes antes James pareceu tão vulnerável quanto em Gentle Confrontation. São canções que orbitam um universo bastante pessoal, detalhando medos e tormentos vividos pela artista. Mesmo quando se distancia do uso das palavras, como em I’m Trying To Love Myself, há sempre um componente melancólico que garante maior profundidade ao material. Já outras, como a inusitada Cards With the Grandparents, com o registro de uma noite em família jogando cartas, servem de passagem para um ambiente tão intimista quanto provocativo, como uma representação da mente inquieta da produtora.

Interessante notar que tamanha sensibilidade e entrega no processo de composição parta justamente do trabalho em que James mais estreita laços com outros colaboradores. Em Déja Vù, por exemplo, são as rimas de RiTchie, um dos membros do grupo Injury Reserve, que servem de complemento às batidas e bases irregulares da artista. Já em While They Were Singing, são as vozes etéreas de Marina Herlop que engrandecem a criação. Surgem ainda faixas como I DM U, em que a produtora assuem as bases da canção, porém, abre espaço para a bateria jazzística de Morgan Simpson, um dos membros do Black Midi.

Naturalmente, toda essa combinação de elementos, diálogos com diferentes colaboradores e esforço em transitar por entre estilos resulta no aparecimento de faixas que pouco contribuem para o trabalho e estendem o registro para além do necessário. São repetições de ideias e músicas que mais parecem esboços quando próximas de outras canções melhor elaboradas, vide Try for Me, parceria com Eden Samara que soa como uma extensão desnecessária de While They Were Singing. Pequenos excessos que prejudicam o desenvolvimento do álbum, porém, a todo momento reforçam o caráter exploratório de James

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.