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Ano: 2022

Selo: RVNG Intl.

Gênero: Art Pop, Experimental

Para quem gosta de: Helado Negro e Laurel Halo

Ouça: Atemporal, Dicen e Enviada

8.0
8.0

Lucrecia Dalt: “¡Ay!”

Ano: 2022

Selo: RVNG Intl.

Gênero: Art Pop, Experimental

Para quem gosta de: Helado Negro e Laurel Halo

Ouça: Atemporal, Dicen e Enviada

/ Por: Cleber Facchi 21/10/2022

Para além das diferentes identidades criativas e registros assinados de forma colaborativa com nomes como Aaron Dilloway e F. S. Blumm, cada novo trabalho de Lucrecia Dalt parece transportar o ouvinte para um território criativo completamente distinto. Sequência ao material entregue no soturno No Era Sólida (2020), ¡Ay! (2022, RVNG Intl.) reforça a capacidade da cantora, compositora e produtora de origem colombiana em transitar por entre estilos de forma bastante detalhista. São composições que destacam o refinamento estético e permanente senso de ruptura da artista que hoje reside na cidade de Berlim.

Concebido em uma medida própria de tempo, como tudo aquilo que a Dalt tem desenvolvido desde os primeiros registros autorais, ¡Ay! talvez seja o trabalho mais engenhoso e musicalmente complexo que a colombiana já revelou ao público. Inaugurado em meio a camadas de sintetizadores e ambientações borbulhantes, marca da introdutória No Tiempo, o álbum lentamente destaca o uso de instrumentos de sopro e pequenas sobreposições que ampliam o campo de atuação da artista. É somente depois dessa trama sutil que a voz da cantora se apresenta ao público de forma a detalhar a delicada letra da canção.

Partindo dessa abordagem minuciosa, cada composição se transforma em um objeto precioso nas mãos da compositora. São canções que detalham segredos e brincam com a interpretação do ouvinte em uma formatação sempre misteriosa. Instantes em que a artista vai de encontro ao próprio passado, utilizando de elementos da música latina, porém, de forma fragmentada. Exemplo disso acontece na labiríntica Atemporal. Pouco mais de três minutos em que o uso da percussão transporta o som produzido pela cantora para um cenário talvez impensado quando voltamos os ouvidos para os trabalhos anteriores.

E não poderia ser diferente. Acompanhada de um seleto time de colaboradores, Dalt se permite provar de novas possibilidades durante toda a execução do material. Uma das primeiras composições do disco a serem reveladas ao público, Enviada funciona como uma boa representação desse resultado. Enquanto os versos potencializam o caráter existencialista do registro (“Tempo é em si uma forma transitória / Que a eternidade um dia prescindirá“), instrumentos de sopro e a percussão versátil de Alex Lázaro reforçam a capacidade da artista em jogar com os instantes. A própria canção de abertura, mesmo partindo de uma abordagem reducionista, encanta pela forma como cada elemento assume uma posição de destaque.

Embora marcado pela pluralidade de informações e criativo diálogo com diferentes colaboradores, ¡Ay! reforça o caráter homogêneo que há mais de uma década caracteriza os trabalhos de Dalt em carreira solo. Perceba como tudo gira em torno de um mesmo conjunto de ideias, timbres e temáticas. A própria voz da cantora, talvez fluida quando próxima do material entregue no disco anterior, em nenhum momento ultrapassa o que parece ser um limite pré-estabelecido em estúdio. Composições que se revelam ao público em pequenas doses, sem pressa, detalhando o uso das texturas, quebras e pequenos acréscimos.

Dessa forma, livre de respostas rápidas, ¡Ay! preserva o habitual hermetismo da colombiana, porém, evidencia o esforço de Dalt em estreitar relações com novos colaboradores e utilizar de uma linguagem cada vez mais acessível, íntima de uma parcela ainda maior de ouvintes. Claro que essas pequenas brechas conceituais não dão conta de cobrir o ritmo peculiar, por vezes arrastado, que tende a consumir o trabalho, prejudicando a experiência do ouvinte. Um misto de acolhimento e provocação, como um acumulo de tudo aquilo que caracteriza o som produzido pela musicista em mais de duas década de carreira.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.