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Ano: 2022

Selo: Independente

Gênero: Pop

Para quem gosta de: Potyguara Bardo e Jaloo

Ouça: Pedacinho do Céu e Sabor de Vingança

7.3
7.3

Luísa e os Alquimistas: “Elixir”

Ano: 2022

Selo: Independente

Gênero: Pop

Para quem gosta de: Potyguara Bardo e Jaloo

Ouça: Pedacinho do Céu e Sabor de Vingança

/ Por: Cleber Facchi 11/10/2022

Inaugurado como um convite, Elixir (2022, Independente), novo álbum de Luísa e Os Alquimistas diz a que veio logo nos minutos iniciais, em Na Minha Rede. “Vem cá se balançar na minha rede, vem / Se lambuzar nesse chamego, vem“, convida a cantora e compositora de Natal, Rio Grande do Norte. São pouco mais de três minutos em que Luísa Nascim, sempre acompanhada pelos parceiros de banda, os músicos Gabriel Souto, Pedras Leão, Pedro Regada, Tal Pessoa e Carlos Tupy, se aventura na construção de um repertório descomplicado, leve, como uma extensão do material entregue no disco anterior, Jaguatirica Print (2019).

E isso fica ainda mais evidente na canção seguinte, Like a Popstar. Enquanto os versos, cantados em inglês, costuram passado e presente da trajetória artística da cantora potiguar, sintetizadores e batidas sempre calculadas se espalham de forma a acompanhar as guitarras e vozes que embalam a canção. Nada que se compare ao material entregue na faixa seguinte, Pedacinho do Céu, um pop açucarado, talvez inocente, mas que encanta pela força do sotaque, gírias e interpretação atenta da artista e seus colaboradores sobre a música produzida no nordeste do país. É como um lento, porém, delicioso desvendar de informações.

Minutos à frente, na enérgica Boto Pra Torar, evidente é o esforço da banda em brincar com a fluidez dos elementos, revelando uma composição parece pensada para as apresentações ao vivo. “Eu vou soltando a minha rima / Nossa voz se dissemina / Quanto mais tu subestima / Mais eu boto pra torar“, dispara. Com a música seguinte, Open Your Window, o registro mais uma vez desacelera, se aprofunda em temáticas interessantes, porém, tende ao esquecimento, efeito da base contida e poesia que mascara a identidade artística da cantora. E ela não é a única. Sempre que se aventura na busca por outros idiomas, Nascim parece distanciar o ouvinte do restante da obra, tornando confusa a experiência de ouvir o trabalho.

Não por acaso, quando regressa aos ritmos nacionais e versos cantados em bom português, a artista potiguar garante ao público algumas das melhores composições do disco. Passado o breve respiro na lisérgica Praia do Amor, Nascim mostra toda sua potência criativa em Sabor de Vingança. Enquanto a base da canção, sempre econômica, parece saída de algum cabaré à beira da estrada, versos marcados pelo forte aspecto provocativo seduzem o ouvinte logo em uma primeira audição. “Você sabe que brincou com fogo / E agora vai se queimar / Vou te deixar louco arrependido / De tudo que me fez passar“, anuncia.

Com a chegada da já conhecida Guapetona, com letra cantada em espanhol, Nascim abre passagem para o lado mais curioso da obra. São canções que transitam por entre estilos e diferentes possibilidades de forma a romper com todo e qualquer traço de conforto. Instantes em que a artista segue de onde parou no trabalho anterior, porém, transitando por vias pouco convencionais. Nona faixa do disco, a trilíngue Blue Gemstone potencializa ainda mais esse resultado, efeito direto do uso de versos semi-declamados que se espalham em meio a camadas de sintetizadores, batidas e vozes que convidam o ouvinte a dançar.

Contraponto sutil a esse momento de maior euforia, Durga & Saraswati encerra o disco de forma quase transcendental. Como um mantra, a música cantada em sânscrito se revela ao público em pequenas doses, sem pressa. São fragmentos de vozes, efeitos e pequenas sobreposições instrumentais que trazem de volta e sutilmente pervertem uma série de elementos testados pela banda ao longo do registro. É como uma delirante combinação de ideias, estrutura que preserva a essência criativa do sempre inventivo grupo potiguar e ainda deixa o caminho aberto para os futuros lançamentos de Nascim e seus colaboradores.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.