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Crítica

Luneta Mágica

: "No Paiz das Amazonas"

Ano: 2022

Selo: Bananada

Gênero: Rock Psicodélico

Para quem gosta de: Boogarins e Bike

Ouça: Além das Fronteiras e Águas Poluídas

8.0
8.0

Luneta Mágica: “No Paiz das Amazonas”

Ano: 2022

Selo: Bananada

Gênero: Rock Psicodélico

Para quem gosta de: Boogarins e Bike

Ouça: Além das Fronteiras e Águas Poluídas

/ Por: Cleber Facchi 21/03/2022

Selva e concreto, calmaria e caos, sobriedade e delírio. Os contrastes estão por toda parte nas canções de No Paiz das Amazonas (2022, Bananada). Terceiro e mais recente trabalho de estúdio do grupo manauara Luneta Mágica, o sucessor de No Meu Peito (2015) não apenas perverte o pop rock acessível do registro que o antecede, como amplia consideravelmente a essência psicodélica que tem sido explorada desde o introdutório Amanhã Vai Ser o Melhor Dia Da Sua Vida (2012). São composições nascidas da sobreposição de ideias, diferentes ritmos e referências, conceito que dialoga com a própria imagem de capa do disco.

De essência conceitual, o trabalho que discute a relação entre a metrópole manauara e a floresta no entorno faz de cada composição um objeto precioso, a ser desvendado pelo ouvinte. E isso fica bastante evidente logo na introdutória faixa-título. São pouco mais de seis minutos em que a banda formada por Erick Omena, Eron Oliveira, Daniel Freire, Pablo Araújo e Victor Neves parte de um trecho orquestrado de Canto de Amor e Paz, do compositor amazonense Cláudio Santoro, para mergulhar em um ambiente de emanações psicodélicas e momentos de maior experimentação, estímulo para o restante do álbum.

Uma vez imerso nesse ambiente de formas flutuantes, sons de corredeiras e ruídos animalescos, evidente é o esforço do quinteto em testar os próprios limites dentro de estúdio. Diferente do repertório letárgico que parecia orientar as canções de Amanhã Vai Ser o Melhor Dia Da Sua Vida, parte expressiva do som produzido em No Paiz das Amazonas utiliza da aceleração como um importante componente criativo. São incontáveis camadas de guitarras e batidas rápidas que apontam de maneira quase explícita para a obra de veteranos como Neu! e Can, porém, partindo de uma abordagem própria do grupo amazonense.

Exemplo disso fica bastante evidente em Além das Fronteiras, faixa que utiliza de uma base atmosférica, porém, acelera e cresce a cada novo movimento do grupo. São ideias e atravessamentos rítmicos, estrutura que assume contornos pouco usuais em Eldorado das Ilusões, colaboração com Danilo Sevali, da Hierofante Púrpura, e passagem para o lado mais provocativo da obra. É como um campo aberto às possibilidades, direcionamento que se reflete mesmo nos versos das canções, como em Águas Poluídas, composição de essência política que sintetiza o domínio lírico e força do registro. “Confie em Deus, mas tranque a porta / Estamos mergulhando fundo / Em águas muito poluídas / Essa barragem não aguenta“, canta Araújo.

Embora bem resolvido, No Paiz das Amazonas sustenta alguns vícios. Salve exceções, como a já citada Eldorado das Ilusões e Barravento, música que concede ao disco ares ritualísticos, parte expressiva das canções utiliza de uma estrutura bastante similar. São arranjos reducionistas que se abrem para a inserção da bateria ritmada, camadas de guitarras e um núcleo labiríntico que culmina em um novo recolhimento, formato que se repete em Além das Fronteiras, Tuiuiú, Orquídia e Decolar. Mesmo quando prova de novas possibilidades, como na jazzística Primitivo, parceria com Sistilho, o enquadramento acaba sendo o mesmo.

Claro que essas pequenas repetições e momentos de maior instabilidade não diminuem o impacto causado pelo disco. Do momento em que tem início, nas orquestrações da autointitulada música de abertura, passando pelo krautrock tameimpalesco de Conduzido (Haux, Haux), cada fragmento do trabalho parece pensado para capturar a atenção e surpreender o ouvinte. É como um acumulo natural de tudo aquilo que o grupo amazonense tem produzido desde os primeiros registros autorais, porém, partindo de uma abordagem ainda mais complexa, tratamento que se reflete até a derradeira Presságio (Txãī Pūke Ruake).

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.