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Crítica

Lupe de Lupe

: "Um Tijolo Com Seu Nome"

Ano: 2023

Selo: Balaclava Records / Geração Perdida

Gênero: Indie Rock, Punk, Shoegaze

Para quem gosta de: Fernando Motta e gorduratrans

Ouça: Helena, Martina e Gabriela

8.3
8.3

Lupe de Lupe: “Um Tijolo Com Seu Nome”

Ano: 2023

Selo: Balaclava Records / Geração Perdida

Gênero: Indie Rock, Punk, Shoegaze

Para quem gosta de: Fernando Motta e gorduratrans

Ouça: Helena, Martina e Gabriela

/ Por: Cleber Facchi 05/09/2023

O aglomerado de corpos que estampa a imagem de capa de Um Tijolo Com Seu Nome (2023, Balaclava Records / Geração Perdida), uma fotografia da recifense Bruna Costa, ajuda a entender parte do insano atravessamento de informações proposto pela Lupe de Lupe no sexto e mais recente álbum de estúdio da carreira. São 24 composições, todas resolvidas em um intervalo de um a dois minutos de duração, em que a grupo formado por Gustavo Scholz, Jonathan Tadeu, Renan Benini e Vitor Brauer utiliza da aleatoriedade e fluidez dos elementos como um precioso componente de aproximação entre as faixas. Canções que vão de personagens a cenas simples do cotidiano, porém, violentamente retorcidas pelo som torto do quarteto.

Nada acessível quando próximo do material entregue no registro anterior, Lula (2021), e pensado para ser ouvido no aleatório, Um Tijolo Com Seu Nome é, com perdão do trocadilho, uma verdadeira tijolada. Sem tempo para descanso e livre da verborragia que vez ou outra consome as criações da banda, cada nova composição abre passagem para a música seguinte, convidando o ouvinte a se perder em um turbulento exercício criativo que converte em ruído as angústias de diferentes indivíduos. É como um regresso à urgência explícita nos primeiros trabalhos de estúdio do quarteto, caso de Recreio (2011) e Sal Grosso (2012), porém, utilizando de uma crueza poucas vezes antes percebida no som produzido pelo grupo.

Do momento em que tem início, nas vozes berradas e poética ameaçadora de Eduardo (“Sinto muito, só que nada / Aqui se fez, aqui se paga“), personagens corrompidos pelas próprias emoções, memórias e crônicas urbanas se entrelaçam em meio a guitarras ruidosas e estruturas rítmicas que vão do punk ao hardcore em questão de segundos. Canções talvez regidas de forma aleatória, porém, conectadas pelo sentimento de indignação que serve de sustento aos versos. “Será que existe alguma paz neste lugar?“, questiona a letra da intensa Ricardo, composição que sintetiza parte dos tormentos que orientam a experiência do ouvinte.

Embora consumido pelo lirismo inquietante e brutalidade dos arranjos, Um Tijolo Com Seu Nome, assim como os demais trabalhos da Lupe de Lupe, revela coloridos refúgios instrumentais e poéticos que mais uma vez evidenciam a versatilidade da banda. Exemplo disso pode ser percebido em Dalila, música que se espalha em meio a violões etéreos e versos que contrastam com a crueza explícita no registro. “Eu preciso / Tanto / Te dizer / Que tenho / Sonhado Com você“, canta. São pequenos respiros criativos que rompem na mesma medida em que parecem intimamente relacionados ao restante da obra. É como um campo aberto às possibilidades, prova do contínuo esforço do grupo mineiro em testar os limites da própria criação.

Observado atentamente, desde Quarup (2014) que a Lupe de Lupe não revelava ao público uma obra tão diversa, estruturalmente complexa e ao mesmo tempo desafiadora para o ouvinte. Em Cauê, por exemplo, são guitarras carregadas de efeitos e ruídos que se completam pelo estranho estudo de personagem proposto por Brauer, como uma peça esquecida do movimento no wave. Já em Maurício, essas mesmas guitarras surgem em ondas acinzentadas, sempre em comunhão com a bateria, estrutura abandonada na canção seguinte, a labiríntica Helena, faixa que faz lembrar das experimentações de nomes como No Age.

Por conta desse volume de composições, que ainda concentra preciosidades como Martina, Gabriela e a libertadora Isaac, Um Tijolo Com Seu Nome se projeta como uma obra que tanto reserva boas surpresas a cada nova audição, como perde forças pela quantidade excessiva de canções. São músicas como a confusa Melissa, em que Brauer espelha elementos de Relicário, de Nando Reis, e o pop rock deslocado de Marisa, que estendem o álbum para além do necessário. Entretanto, como indicado no texto de apresentação, trata-se de um registro que joga com regras próprias, utilizando da não linearidade proposta pela banda como ferramenta para que o ouvinte organize, exclua ou monte o repertório do disco da maneira que desejar.

Ouça também:

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.