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Crítica

M83

: "Fantasy"

Ano: 2023

Selo: Mute / Virgin

Gênero: Dream Pop, Synthpop

Para quem gosta de: Sigur Rós e Tame Impala

Ouça: Earth To Sea e Oceans Niagra

7.3
7.3

M83: “Fantasy”

Ano: 2023

Selo: Mute / Virgin

Gênero: Dream Pop, Synthpop

Para quem gosta de: Sigur Rós e Tame Impala

Ouça: Earth To Sea e Oceans Niagra

/ Por: Cleber Facchi 27/03/2023

Há dois anos, quando entrou em estúdio para as gravações de um novo álbum, Anthony Gonzalez tinha em mente dois pensamentos: romper com o aspecto comercial do repertório apresentado em Hurry Up, We’re Dreaming (2011), trabalho que revelou o M83 a uma parcela ainda maior de ouvintes, e trazer um “sentimento de banda” para as canções. Não por acaso, o multi-instrumentista francês e seu principal parceiro de criação, o produtor Justin Meldal-Johnsen (St. Vincent, Paramore), mergulharam em longas sessões de improviso junto de outros músicos, investindo um material marcado pela fluidez dos elementos.

O resultado desse processo está na entrega de Fantasy (2023, Mute / Virgin), trabalho que soa como uma combinação do que há de mais característico no tipo de som que vem sendo produzido pela banda francesa há mais de duas décadas. São incontáveis camadas de guitarras, sintetizadores, batidas e vozes que apontam para os introdutórios Dead Cities, Red Seas & Lost Ghosts (2003) e Before the Dawn Heals Us (2005), quando Gonzalez incorporava elementos de shoegaze e pós-rock, mas que em nenhum momento se distanciam das ambientações coloridas e diálogo com o pop que foi adotado em Saturdays = Youth (2008).

E isso fica bastante evidente em toda a porção inicial do trabalho. São composições como Oceans Niagara, Water Deep, Amnesia, Us And The Rest e Radar, Far Gone que chamam a atenção pelo refinamento estético e uso de delicadas paisagens instrumentais que funcionam como um verdadeiro passeio pelo cosmos. Canções que se estendem pelo tempo que precisam durar, detalhando ambientações sutis, guitarras sempre carregadas de efeitos e vozes em coro que parecem pensadas para as apresentações ao vivo da banda, como na crescente Earth To Sea, um pop transcendental que se revela aos poucos, sem pressa.

Por conta dessa estrutura, Fantasy é um trabalho que exige tempo e nem sempre consegue gratificar o ouvinte. Quando avançamos para a segunda metade do disco, por exemplo, Gonzalez desacelera ainda mais, investindo na entrega de faixas exageradamente longas e que acabam ancoradas em estruturas bastante similares. Do uso atmosférico dos sintetizadores, passando pelo tratamento dado aos vocais e temas que vão do existencialismo ao onírico, tudo soa como uma repetição de ideias. Canções como Deceiver e a própria faixa-título que mais parecem sobras do material revelado nos discos anteriores.

Ainda assim, Gonzalez reserva algumas surpresas. Composição mais extensa do disco, Kool Nuit mostra como esses pequenos excessos podem resultar em boas criações. Inaugurada em meio a sintetizadores atmosféricos e vozes complementares da tecladista Kaela, a faixa de quase oito minutos aos poucos se converte em um krautrock que transporta o som produzido pelo músico francês para um novo território criativo. O mesmo acontece nas duas partes de Sunny Boy, canção que preserva e sutilmente perverte uma série de elementos originalmente testados pelo instrumentista em Hurry Up, We’re Dreaming e Junk (2016).

Fatiado entre momentos de sutil transformação, criações que se estendem para além do necessário e músicas que tendem ao conforto, Gonzalez garante ao público uma obra irregular, mas que em nenhum momento perde seu refinamento. Tão logo tem início, na contrastante combinação entre sintetizadores e bases acústicas de Water Deep, evidente é esforço do compositor francês em lidar com a sobreposição dos arranjos, batidas e vozes de forma sempre calculada. Um exercício criativo talvez menor e menos impactante quando próximo de outros registros do M83, porém, consistente durante toda sua execução.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.