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Crítica

Macaco Bong

: "Live Garage"

Ano: 2022

Selo: ForMusic Records

Gênero: Rock Instrumental

Para quem gosta de: Hurtmold e Papangu

Ouça: Carranca, Vá e Uveíte

8.5
8.5

Macaco Bong: “Live Garage”

Ano: 2022

Selo: ForMusic Records

Gênero: Rock Instrumental

Para quem gosta de: Hurtmold e Papangu

Ouça: Carranca, Vá e Uveíte

/ Por: Cleber Facchi 07/12/2022

Na segunda metade dos anos 2000, a Macaco Bong se transformou em uma presença garantida e bastante celebrada em alguns dos principais festivais de música independente do Brasil. E não poderia ser diferente. Em um cenário que revelou nomes como Móveis Coloniais de Acaju, Vanguart e Mallu Magalhães, o grupo cuiabano encabeçado pelo guitarrista Bruno Kayapy se destacava pela potência das apresentações ao vivo que pareciam ampliar significativamente o material desenvolvido em estúdio. Eram performances sempre catárticas e imprevisíveis, proposta que viria a orientar os espetáculos da banda pelos próximos anos.

Vem justamente desse olhar e ouvido atento para as próprias apresentações o estímulo para o material entregue em Live Garage (2022, ForMusic Records). Lançado de surpresa, o registro de cinco faixas busca transportar para dentro de estúdio a mesma intensidade explícita nas performances do grupo completo pelos músicos Igor Carvalho (baixo) e Marcus Fachini (bateria). E isso fica bastante evidente na introdutória Carranca. São pouco mais de sete minutos de batidas espancadas, guitarras altamente ruidosas e uma linha de baixo que cobre toda a superfície da canção, indicando a potência e completa entrega do trio.

Uma vez apontada a direção em Carranca, cada composição destaca o turbulento processo criativo do grupo. São blocos instrumentais que parecem desabar como pilhas de escombros, proposta reforçada na música seguinte, Uveíte. Enquanto a primeira metade da canção utiliza de uma abordagem regular, com a porção seguinte, o trio utiliza da sobreposição dos elementos para trazer ainda mais peso ao material. Mesmo as guitarras de Kayapy, sempre intensas, ganham novo tratamento e parecem avançar de forma truculenta. É como se a banda fosse além da própria energia explícita durante as apresentações ao vivo.

Sem tempo para descanso e longe de possíveis respiros, o grupo logo engata a música seguinte, . Tão direta quanto o título parece indicar, a composição de quase seis minutos destaca o entrosamento e forte aceleração que orienta o trabalho da banda. É quase possível visualizar os três instrumentistas tocando um de frente para o outro, olho no olho, antecipando movimentos e atuando de forma sincronizada. Instantes em que o trio aproveita para confessar referências, esbarra nos primeiros registros de veteranos como Metallica e Motörhead, porém, preservando a própria identidade criativa e evidente fluidez dos elementos.

Dos poucos momentos em que desacelera, como nas pequenas oscilações que marcam a composição seguinte, Trabalho Forçado, prevalece a densidade e dinamismo do trio. De essência labiríntica, a faixa ganha forma em um intervalo de quase dez minutos. É como uma interpretação ainda mais complexa e sombria do material entregue em algumas das criações mais extensas do grupo, como Bananas For You All, do introdutório Artista Igual Pedreiro (2008). Uma delirante combinação de elementos que parte sempre da invasiva guitarra de Kayapy, mas que a todo momento destaca os instrumentos dos parceiros de banda.

Intenso desde os primeiros minutos, Live Garage segue assim até os momentos finais, na derradeira É. Mesmo que parte da canção soe como uma reciclagem das ideias incorporadas ao longo do trabalho, difícil não se deixar conduzir pela experiências proposta pela banda. Pouco menos de 11 minutos em que a guitarra de Kayapy encolhe e cresce a todo instante, brinca com as possibilidades e convida o ouvinte a se perder em um cenário marcado pelo permanente atravessamento de informações. Um concentrado rítmico e instrumental que novamente destaca o esforço da Macaco Bong em testar os próprios limites em estúdio.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.