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Crítica

Madlib

: "Sound Ancestors"

Ano: 2021

Selo: Madlib Invazion

Gênero: Hip-Hop, Instrumental Hip-Hop, Eletrônica

Para quem gosta de: Flying Lotus, J Dilla e Four Tet

Ouça: Road of the Lonely Ones e Two For 2 - For Dilla

8.0
8.0

Madlib: “Sound Ancestors”

Ano: 2021

Selo: Madlib Invazion

Gênero: Hip-Hop, Instrumental Hip-Hop, Eletrônica

Para quem gosta de: Flying Lotus, J Dilla e Four Tet

Ouça: Road of the Lonely Ones e Two For 2 - For Dilla

/ Por: Cleber Facchi 04/02/2021

Em 2005, poucos meses após o lançamento de Madvillainy (2004), cultuado encontro com o rapper MF DOOM, Otis Jackson Jr., o Madlib, entregou parte do repertório produzido no trabalho para que as canções ganhassem novo tratamento nas mãos do britânico Kieran Hebden, o Four Tet. Nome em ascensão na cena inglesa, o artista que havia acabado de lançar o ótimo Everything Ecstatic (2005), não apenas deu novo sentido ao material, como imprimiu traços da própria identidade e passou a incorporar uma série de outros elementos, como a linguagem fragmentada do produtor californiano, dentro dos registros que seriam apresentados por ele próprio nos próximos anos.

Agora, quase duas décadas após o início dessa parceria, Madlib e Four Tet estão mais uma vez juntos em Sound Ancestors (2021, Madlib Invazion). Diferente do material entregue nos remixes de Madvillany, em que mergulhou no uso dos sintetizadores e batidas remodeladas, Hebden assume uma posição menos intrusiva, sendo responsável pela edição, arranjos e masterização da obra. O resultado desse tratamento está na entrega de um repertório quase homogêneo, efeito direto das pequenas conexões estabelecidas entre diferentes faixas, porém, ainda íntimo da profusão de ideias que tradicionalmente definem a obra do produtor californiano.

Entretanto, mesmo amarrado conceitualmente por Hebden, uma audição atenta revela dois agrupamentos bastante específicos no interior do trabalho. O primeiro deles, evidente logo nos primeiros minutos da obra, reflete a capacidade de Madlib em utilizar de diferentes exemplares da música negra como importante alicerce criativo. Composições que vão do jazz ao soul, do funk ao rock psicodélico em meio a diálogos com personagens muitas vezes esquecidos, como a cantora Lyn Collins (1948 – 2005), em Chino, mas que foram garimpados e resgatados pelo artista em suas incursões por diferentes lojas de discos ao redor do mundo.

Vem justamente desse primeiro bloco algumas das principais composições do álbum. É o caso de Road Of The Lonely Ones. Escolhida para anunciar a chegada do disco, a faixa de quase quatro minutos ganha força em meio a vozes resgatadas de duas músicas produzidas pelo grupo The Ethic, Lost in a Lonely World e Now Is the Time, porém, cresce na sobreposição quase psicodélica dos elementos e bateria sempre ritmada, indicativo de tudo aquilo que Madlib busca desenvolver até a derradeira Duumbiyay. O mesmo resultado pode ser percebido na também empoeirada Two for 2 – for Dilla, homenagem a J Dilla (1974 – 2006) que cresce na criativa reciclagem de Love Gonna Pack Up (And Walk Out), do grupo Sly, Slick and Wicked.

Já a porção seguinte do trabalho, menos palatável e fortemente regida pela presença de Four Tet, evidencia o lado experimental da obra. Canções como Loose Goose e reducionista Dirtknock, com suas bases cíclicas e fragmentos pontuais, que parecem dar voltas em torno de um limitado conjunto de ideias. A própria Hopprock, lançada há poucas semanas, parece muito mais uma criação de Habden do que de Madlib, percepção reforçada pelo uso das batidas, vozes e ambientações eletrônicas que parecem saídas de obras ainda recentes do britânico, como Parallel (2020) e Sixteen Oceans (2020).

Entre as brechas desses dois agrupamentos, surgem preciosidades como Latino Negro, com um maior destaque para o uso dos instrumentos, e One for Quartabê / Right Now, música concebida a partir de trechos de Lembre-se, do grupo paulistano Quartabê, e um parcial regresso aos temas explorados em Madvillainy, obra fortemente influenciada pela música brasileira. Instantes em que o artista californiano e o produtor inglês se permitem provar de novas possibilidades dentro de estúdio, porém, regressando a todo momento aos mesmos blocos temáticos que garantem maior consistência e força ao trabalho.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.