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Crítica

Mahmundi

: "Amor Fati"

Ano: 2023

Selo: Universal Music

Gênero: R&B, Pop Rock

Para quem gosta de: Rubel e Qinhones

Ouça: Sem Necessidade e Noites Tropicais

7.6
7.6

Mahmundi: “Amor Fati”

Ano: 2023

Selo: Universal Music

Gênero: R&B, Pop Rock

Para quem gosta de: Rubel e Qinhones

Ouça: Sem Necessidade e Noites Tropicais

/ Por: Cleber Facchi 15/05/2023

Marcela Vale, a Mahmundi, há muito deixou de ser encarada como uma aposta para atuar como um dos nomes mais interessantes do pop rock nacional. Dona de três álbuns de estúdio – Mahmundi (2016), Pra Dias Ruins (2018) e Mundo Novo (2020) –, uma indicação ao Grammy Latino e colaborações com nomes como Rubel, Qinhones e Mary Olivetti, a artista esbanja segurança ao alcançar o quarto e mais recente trabalho de inéditas da carreira, Amor Fati (2023, Universal), registro em que se distancia de possíveis excessos para investir em um repertório meticuloso em que destaca com sensibilidade a força dos versos.

Como tudo aquilo que a artista tem produzido desde o introdutório Efeito das Cores EP (2012), Amor Fati gira em torno de romances não resolvidos, términos e recomeços, destacando a poesia confessional da compositora carioca. O próprio título do disco, do latim, “amor ao destino“, funciona como uma precioso indicativo das aventuras românticas que Vale busca desenvolver ao longo da obra. Canções que tendem a um resultado monotemático, porém, habilmente maquiadas pela capacidade da cantora em transitar por entre estilos de forma sempre acessível, estreitando laços com diferentes desdobramentos da música pop.

Exemplo disso fica bastante evidente na sequência formada por Diamante e Sem Necessidade. Enquanto a primeira parte de uma base reducionista, destacando a construção das batidas e versos (“A gente pode tentar / Quero um pouco mais de você / Só de pensar, te ter aqui“), na composição seguinte, já conhecida parceria com Felipe Puperi, o Tagua Tagua, Mahmundi amplia o campo de atuação da própria obra, mergulhando no mesmo R&B psicodélico de nomes como Steve Lacy e Kali Uchis. São canções que vão de um canto a outro sem necessariamente romper com a sonoridade e essência das antigas criações de Vale.

Observado atentamente, Amor Fati estabelece pequenos pontos de contato com tudo aquilo que Vale tem explorado desde a década passada. Em Noites Tropicais, por exemplo, a artista destaca o uso das guitarras, porém, invertendo a lógica cintilante de músicas como Leve por uma abordagem soturna. O mesmo olhar para o próprio passado, porém, partindo de um necessário senso de renovação, pode ser percebido em Pera Aí, delicada parceria com Lux Ferreira e Lôu Cascudo em que resgata os sintetizadores dos primeiros registros em estúdio de forma a transportar o ouvinte para dentro de um labirinto de sons e sensações.

Vem justamente desse olhar para o próprio repertório a inusitada escolha da artista em regravar Meu Amor. Originalmente apresentada como parte do primeiro álbum de estúdio da cantora, a faixa surge agora em novo formato, estreitando relações com o rock em uma abordagem que evoca Teatro Dos Vampiros, da Legião Urbana. Embora parta de uma abordagem interessante, a canção, seguida do remix com a versão inicial de Sem Necessidade, acaba matando o fechamento do disco, como se a fluidez e frescor expressos logo nos minutos iniciais, em composições como Amanhã, se perdesse aos poucos.

Ainda assim, quando próximo do registro que o antecede, trabalho que destaca a busca da cantora por novas possibilidades e colaboradores em estúdio, Amor Fati se apresenta ao público como uma obra marcada pela consistência. Do reducionismo dado aos arranjos, passando pelo uso sempre calculado das vozes, Vale parece saber exatamente onde quer chegar. Dessa forma, é quase impossível passear pelas canções do disco e não ser prontamente fisgado por um verso e outro, capturando a atenção do ouvinte. Um fino repertório que mais uma vez destaca o equilíbrio e domínio criativo da compositora carioca.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.