Image
Crítica

Mandy, Indiana

: "I’ve Seen a Way"

Ano: 2023

Selo: Fire Talk

Gênero: Experimental, Industrial

Para quem gosta de: Gilla Band e Model/Actriz

Ouça: Pinking Shears e Peach Fuzz

8.0
8.0

Mandy, Indiana: “I’ve Seen a Way”

Ano: 2023

Selo: Fire Talk

Gênero: Experimental, Industrial

Para quem gosta de: Gilla Band e Model/Actriz

Ouça: Pinking Shears e Peach Fuzz

/ Por: Cleber Facchi 06/06/2023

Por mais serena e convidativa que possa parecer a imagem de capa de I’ve Seen a Way (2023, Fire Talk), o que se esconde por trás do primeiro álbum de estúdio do grupo Mandy, Indiana é bem diferente do esperado. Formado por Valentine Caulfield (voz), Scott Fair (voz), Simon Catling (sintetizador) e Alex MacDougall (bateria),a banda original da cidade de Manchester, na Inglaterra, parece seguir a trilha de outros nomes importantes da cena local. São composições inspiradas pela herança industrial da região, como uma sobreposição de ruídos metálicos, vozes abafadas e pequenos atravessamentos de informações.

A diferença em relação a outras obras do gênero, sempre marcadas pela urgência de suas criações, está na forma como o quarteto se organiza e atua em uma medida própria de tempo. Com Love Theme (4K VHS) como faixa de abertura, o grupo mergulha na formação de sintetizadores cósmicos que convidam o ouvinte a flutuar. É como um respiro antes da inserção das batidas, fragmentos e estruturas ruidosas que invadem a canção seguinte, Drag [Crashed], música que evoca Nine Inch Nails, porém, assume novo tratamento na inserção de versos cantados em francês e temas ritualísticos que ampliam o campo de atuação da banda.

São justamente essas pequenas corrupções estéticas e mudanças de direção que tornam a experiência de ouvir I’ve Seen a Way tão satisfatória. Em Pinking Shears, por exemplo, um misto de canto e rima se completa pela percussão que ora utiliza de uma abordagem tribal, ora investe em pequenas abstrações que fazem lembrar o robô puxa-frangos do desenho Pica-Pau. Minutos à frente, com a chegada de Peach Fuzz, são as bases tocadas de trás para frente e sintetizadores futurísticos que chama a atenção do ouvinte, como uma tentativa do grupo de Manchester em dialogar com as pistas de forma sempre particular, torta.

Mesmo quando utiliza de uma abordagem linear, há sempre um elemento de alteração que modifica os rumos da obra. Música mais extensa do trabalho, 2 Stripe funciona como uma boa representação desse resultado. Com quase seis minutos, a faixa parte de uma combinação segura de sintetizadores, batidas e vozes, porém, é lentamente invadida pelo uso ruidoso das guitarras e efeitos ocasionais que tensionam a experiência do ouvinte. O mesmo acontece na minimalista Iron Maiden, canção que começa pequena e culmina em um fechamento completamente caótico, conceito que se repete em outros momentos do disco.

Embora instigante na maior parte do tempo, muitas das canções apresentadas em I’ve Seen a Way soam muito mais como ideias do que necessariamente criações finalizadas. É o caso da atmosférica (ノ>ω<)ノ :。・::・゚’★,。・::♪・゚’☆ (Crystal Aura Redux), faixa que pouco acrescenta quando próxima de outras composições que integram o disco. A mesma sensação de incompletude pode ser percebida em The Driving Rain (18), música que parte de captações de campo, destaca o uso dos sintetizadores, porém, sustenta na ausência das batidas uma tediosa ausência de direção que destoa do restante do trabalho.

Ainda que pontuado por momentos de maior instabilidade e composições que pouco acrescentam ao delirante conjunto de ideias incorporadas pelo quarteto, I’ve Seen a Way preserva o caráter exploratório do grupo até os minutos finais. Com Sensitivity Training como música de encerramento, fica bastante evidente o esforço do Mandy, Indiana em jogar com as possibilidades dentro e fora de estúdio, afinal, muitas das canções que integram o disco foram gravadas em cavernas e criptas góticas. Um repertório totalmente caótico que estabelece a identidade mutável da banda e ainda abre passagem para o que está por vir.

Ouça também:

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.