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Crítica

Mannequin Pussy

: "I Got Heaven"

Ano: 2024

Selo: Epitaph

Gênero: Rock

Para quem gosta de: Illuminati Hotties e Wednesday

Ouça: I Got Heaven, I Don't Know You e Sometimes

8.5
8.5

Mannequin Pussy: “I Got Heaven”

Ano: 2024

Selo: Epitaph

Gênero: Rock

Para quem gosta de: Illuminati Hotties e Wednesday

Ouça: I Got Heaven, I Don't Know You e Sometimes

/ Por: Cleber Facchi 08/03/2024

I Got Heaven (2024, Epitaph) é um desses trabalhos que se encerram tão rápido quanto se iniciam, mas não antes de impactar profundamente o ouvinte. Inaugurado pela potente faixa-título, o registro logo estabelece parte das regras e elementos que serão incorporados pelo Mannequin Pussy, grupo hoje formado pelos músicos Marisa Dabice, Kaleen Reading, Colins Regisford e Maxine Steen. São vozes berradas e guitarras ruidosas, porém, marcadas pelo uso de melodias contrastantes que levam o material para outras direções.

Exemplo disso fica bastante evidente em Loud Bark, composição que se revela aos poucos, isolando cada instrumento de forma a destacar a produção meticulosa de John Congleton, mas que explode nos minutos finais, como uma representação da entrega de Dabice. Mesmo quando utiliza de uma abordagem acessível, como no som contido de Nothing Like, há sempre um elemento de ruptura que bagunça a ordem do disco e destaca a forte carga emocional da vocalista. “Se é isso que você quer, eu te daria a minha vida“, confessa.

É como uma extensão natural daquilo que o grupo havia testado no trabalho anterior, o também catártico Patience (2019), porém, partindo de uma abordagem ainda mais equilibrada. Perfeita representação desse resultado pode ser percebida na combinação entre I Don’t Know You e Sometimes. Enquanto a primeira destaca a suavidade do quarteto e o uso hipnótico dos sintetizadores, com a composição seguinte, o grupo acelera o passo e deixa as guitarras vazarem, como um aceno para o rock produzido na década de 1990.

Nada que prepare o ouvinte para o que se revela em Ok? Ok! Ok? Ok, música que resgata a essência dos primeiros discos da banda, totalmente voltados ao punk/hardcore, porém, utilizando de uma ferocidade poucas vezes antes percebida na obra do Mannequin Pussy. Pouco mais de dois minutos em que as vozes de Dabice se chocam com as de Regisford, culminando em uma criação urgente e insana, direcionamento rompido somente com a chegada de Softly, canção notavelmente mais lenta, mas não menos interessante.

Passado esse breve respiro, Dabice e seus parceiros de banda mais uma vez investem na composição de faixas que vão direto ao ponto. É o caso de Of Her, música que destaca a poética feminista do trabalho, posiciona a bateria de Reading em primeiro plano e avança em uma massa ruidosa que faz lembrar do Pixies em seus momentos de maior insanidade. É como um ensaio para o que se revela de forma ainda mais enraivecida em Aching, com suas vozes berradas e guitarras marcadas pela truculência do grupo.

Menos impactante, porém, consistente com o restante da disco, Split Me Open evidencia a fragilidade do grupo que tem sua identidade forjada a partir da colagem de retalhos instrumentais e estéticos vindos de diferentes movimentos. São décadas de referências e propostas criativas que a todo instante apontam para a obra de veteranos do gênero, mas em nenhum momento deixam de encantar o ouvinte, efeito direto do som inflamando e comprometimento de cada integrante da banda durante toda a execução do material.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.