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Crítica

Marcelo Tofani

: "Fantasia De Um Amor Perfeito"

Ano: 2023

Selo: A Quadrilha

Gênero: Pop

Para quem gosta de: Marina Sena e Duda Beat

Ouça: Certificar e Não Mudo Por Ninguém

7.5
7.5

Marcelo Tofani: “Fantasia De Um Amor Perfeito”

Ano: 2023

Selo: A Quadrilha

Gênero: Pop

Para quem gosta de: Marina Sena e Duda Beat

Ouça: Certificar e Não Mudo Por Ninguém

/ Por: Cleber Facchi 23/05/2023

Você pode até tentar escapar, mas é difícil não se deixar seduzir pelo trabalho de Marcelo Tofani em Fantasia De Um Amor Perfeito (2023, A Quadrilha). Primeiro álbum em carreira solo do ex-integrante do Rosa Neon, grupo que abrigou Luiz Gabriel Lopes, Mariana Cavanellas e o fenômeno Marina Sena, o registro de nove faixas captura a atenção do ouvinte logo nos minutos iniciais, em Até Nascer o Sol, um pop ensolarado com pitadas de soul, mas que chama a atenção pela poesia agridoce que embala a construção dos versos. “Será que eu gosto de você? / Ou que eu só gosto do que a gente deveria ser?“, questiona.

Vem justamente dessa ausência de certeza, amores idealizados e pequenas desilusões o estímulo para grande parte do repertório apresentado por Tofani, como na já conhecida Certificar. Enquanto os versos detalham a busca por um novo amor (“Eu tô te olhando só pra me certificar, né? / Vai que alguma hora cê também olha pra cá, né?“), arranjos caprichados ampliam os limites do trabalho e esbarram de forma propositada na obra de veteranos como Bee Gees. Nada que distancie o artista do pop ensolarado que orienta parte da cena brasileira, como em Perigo, com suas batidas quentes e destacado uso de metais.

Com a chegada de Flechas, Tofani mais uma vez estreita laços com a música latina, potencializa o aspecto provocativo dado aos versos (“Fechou a prova / Aulas no seu / Colchão de mola / Lá cê faz história“) e ainda abre passagem para a chegada do rapper MC Anjim, artista que pouco acrescenta à canção, porém, está longe de prejudicar o material. É como um preparativo para o que apresenta na pegajosa Eu e Ele Não Dá, faixa que vai do brega funk ao pagodão baiano em uma abordagem deliciosamente acessível, como uma extensão de tudo aquilo que o músico e seus parceiros haviam testado no primeiro disco do Rosa Neon.

Nada que prepare o ouvinte para o material entregue em Não Mudo Por Ninguém. Extensão natural do som incorporado nos minutos iniciais do trabalho, vide preciosidades como Até Nascer o Sol e Certificar, a canção mais uma vez aponta para o pop dos anos 1970, flerta com as pistas, porém, em nenhum momento perde seu frescor. Mesmo os versos potencializam a sensibilidade do artista, reforçando o aspecto sentimental que orienta parte da obra. “Enquanto eu quis mudar / Pra não te machucar / Eu me perdi de mim“, confessa em meio a batidas calculadas e guitarras que destacam a produção de Gabriel Moulin.

Entretanto, como indicado durante toda a execução do trabalho, Fantasia De Um Amor Perfeito é um disco aberto às possibilidades. Não por acaso, com a chegada de Nanani Nanão, o artista mais uma vez muda os rumos da obra e vai do R&B ao trap enquanto abre passagem para a dupla X Sem Peita. Esse esforço em transitar por entre estilos fica ainda mais evidente em Pra Esquecer (Sax Indescritível), canção que destaca a força das batidas e sustenta no uso complementar do saxofone uma melancolia que favorece os versos. “O dia foi difícil, mas já foi / Só quero uma desculpa pra beber / Na pista aquele som lembrou nós dois“, canta.

É como um incessante cruzamento de informações, ritmos e vozes, mas que em nenhum momento rompe com o que parece ser um limite bem definido por Tofani. Parte desse resultado vem da escolha do cantor em utilizar dos próprios conflitos sentimentais como um importante componente de amarra criativa, direcionamento que se reflete até os minutos finais, em Como Foi Que A Gente Acabou. São canções afundadas em tormentos pessoais e momentos de maior melancolia, mas que em nenhum momento pesam sobre o ouvinte, reforçando a capacidade do artista em dialogar com sutileza por meio das emoções.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.