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Crítica

María José Llergo

: "Ultrabelleza"

Ano: 2023

Selo: Sony Music Spain

Gênero: Art Pop

Para quem gosta de: Rosalía e Sevdaliza

Ouça: Ultrabelleza e Juramento

7.8
7.8

María José Llergo: “Ultrabelleza”

Ano: 2023

Selo: Sony Music Spain

Gênero: Art Pop

Para quem gosta de: Rosalía e Sevdaliza

Ouça: Ultrabelleza e Juramento

/ Por: Cleber Facchi 11/01/2024

María José Llergo é o típico caso de uma artista que começou seus estudos em música partindo de uma abordagem bastante tradicional, em corais e outras instituições do gênero, para mais tarde brincar com a corrupção desses mesmos conceitos. Original de Pozoblanco, ao Sul da Espanha, a musicista passou parte da última década em busca da própria identidade, sendo oficialmente apresentada ao público durante o lançamento de Sanación (2020), um EP de sete composições em que se aventura pelo pop flamenco, mas que alcança melhor resultado no fino repertório que cresce em Ultrabelleza (2023, Sony Music Spain).

De inevitável comparação com aquilo que Rosalía havia testado durante o lançamento do elogiado El Mal Querer (2018), o trabalho produzido em parceria com Martí Perarnau IV e Zahara utiliza de uma proposta bastante similar, porém, trilha seu próprio caminho. Como indicado logo nos minutos iniciais do registro, no experimentalismo torto que invade a base de Aprendiendo a Volar, Ultrabelleza alcança um ponto de equilíbrio entre a busca por um som pouco convencional e a música pop. São pequenas desconstruções, quebras e momentos de maior instabilidade que parecem brincar com a interpretação do próprio ouvinte.

Dentro desse espaço marcado pelo permanente atravessamento de informações, Llergo estabelece na força dos sentimentos um importante elemento de aproximação entre as faixas. São canções que tratam sobre o amor em suas múltiplas formas, indo do romantismo agridoce à autoaceitação. “Seja qual for o seu jeito de amar / Bem-aventurado aquele que ama“, canta na música-título do disco. É como um delicado exercício de amadurecimento pessoal e poético. Instantes em que a musicista rompe com a lógica tradicional de uma composição do gênero para explorar diferentes temáticas e possibilidades dentro de cada nova criação.

Nós gostamos desse amor por tanto tempo / Nossas almas se aproximaram, simples assim / Que eu guardo o seu sabor, mas você também guarda o meu sabor em ti”, reflete em Tanto Tiempo, composição em que trata sobre o término de um relacionamento, porém, preservando as memórias ali conquistadas. São versos sempre confessionais, destacando a profunda honestidade de Llergo. “Eu vivo entre o que é e o que não é / Entre o que você vê e o que você sente“, canta em La Puerta está Abierta, outra importante representação do lirismo tocante que parte das experiências intimistas da artista espanhola para dialogar com o ouvinte.

Embora marcado pelo aspecto emocional e forte vulnerabilidade explícita nos versos, Ultrabelleza está longe de parecer uma obra melodramática. Pelo contrário. Llergo sabe exatamente como administrar a própria dor ao longo do trabalho, resultando em um material essencialmente equilibrado. A própria base instrumental do disco e produção caprichada da dupla de colaboradores parece contribuir ainda mais para esse direcionamento. Exemplo disso pode ser percebido em Juramento, canção que parte de uma letra altamente romântica, porém, estabelece na fluidez das batidas e vozes um componente de ruptura.

Mais do que um elemento estrutural, essa abordagem adotada por Lergo faz com que mesmo composições ancoradas em conceitos há muito explorados por outros artistas ecoem como novas. Salve exceções, como Rueda, Rueda, em que mais uma vez estreita laços com a música flamenca e canta sobre a passagem do tempo, Ultrabelleza se projeta como uma obra monotemática, fazendo do amor sua principal ferramenta de trabalho. Logo, essa contrastante combinação de estilos, ritmos e formas instrumentais não apenas rompe com qualquer traço de previsibilidade, como se estabelece como um componente identitário da cantora.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.