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Ano: 2025

Selo: 4AD

Gênero: Dream Pop

Para quem gosta de: Juliana Barwick e Grouper

Ouça: Garden, Stonefly e Spring

8.3
8.3

Maria Somerville: “Luster”

Ano: 2025

Selo: 4AD

Gênero: Dream Pop

Para quem gosta de: Juliana Barwick e Grouper

Ouça: Garden, Stonefly e Spring

/ Por: Cleber Facchi 05/05/2025

Maria Somerville soube como poucos a melhor maneira de aproveitar os mais de seis anos que levou para finalizar o sucessor de All My People (2019). Ainda que Luster (2025, 4AD) tenha sido gravado entre 2021 e 2023, com sessões organizadas na região paisagística de Conamara, na Irlanda, e Dublin, capital do país, a cantora e compositora original da cidade de Galway levaria ainda mais alguns meses até finalizar o disco.

Apesar do longo intervalo de tempo, a espera valeu a pena. Inaugurado em meio a ambientações etéreas de Réalt, o registro pode até seguir de onde a cantora parou no trabalho anterior, porém assume um rumo completamente inesperado. Os temas contemplativos, harmonias de vozes e bases enevoadas ainda estão presentes, a diferença está na forma como Somerville agora concede ritmo e maior pressão ao repertório.

Terceira faixa do disco e uma das primeiras músicas do álbum a serem reveladas ao público, em fevereiro deste ano, Garden talvez seja o melhor exemplo disso. Enquanto a bateria se revela com destaque, camadas de guitarras alcançam um ponto de equilíbrio entre os temas celestiais do Cocteau Twins em Heaven or Las Vegas (1990) e a melancolia fina que, delicadamente, invade a obra do The Cure em Disintegration (1989).

É como se, para além do som vaporoso que antes dialogava com o trabalho de Grouper e Julianna Barwick, ainda presente em boas canções como Halo e October Moon, Somerville fosse capaz de ir ainda mais além. A própria Projections, mesmo seguindo em um ritmo próprio, chama a atenção pela forma como a cantora amplia os próprios domínios, soando como uma música saída das trilhas sonoras dos filmes David Lynch.

Entretanto, é quando transcende toda e qualquer expectativa que Somerville garante ao público algumas das melhores composições do trabalho. É o caso de Spring, canção que combina as ambientações sutis do restante do material com um conjunto de batidas que aponta para o Massive Attack em Mezzanine (1998). A própria Stonefly, vinda logo em sequência, é outra que hipnotiza pelo catálogo de novas possibilidades.

São acenos para a obra de diferentes artistas, como se a cantora confessasse algumas de suas principais referências criativas, mas que em nenhum momento rompem com a atmosfera proposta para o material. Pelo contrário, cada elemento serve como extensão da identidade construída ao longo da obra, reforçando o cuidado da musicista em elaborar um universo essencialmente coeso, mesmo quando flerta com o risco.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.