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Ano: 2023

Selo: Independente

Gênero: Art Pop

Para quem gosta de: Luiza Lian e Ava Rocha

Ouça: Cavalo, Boca e Sangue

8.2
8.2

Mariana Cavanellas: “DNA”

Ano: 2023

Selo: Independente

Gênero: Art Pop

Para quem gosta de: Luiza Lian e Ava Rocha

Ouça: Cavalo, Boca e Sangue

/ Por: Cleber Facchi 11/12/2023

Esqueça tudo o que você já ouviu de Mariana Cavanellas ao mergulhar nas composições de DNA (2023, Independente). Primeiro trabalho de estúdio da cantora e compositora mineira, o álbum de doze faixas é uma completa desconstrução daquilo que a artista havia testado anteriormente, seja como integrante do Rosa Neon ou mesmo nos primeiros registros em carreira solo. Do uso instrumental das vozes, passando pela completa fragmentação dos arranjos e batidas, cada nova canção parece transportar o ouvinte para um território criativo totalmente reformulado. São investigações sonoras, quebras e momentos de maior experimentação que sutilmente destacam o esforço de Cavanellas em testar os limites da própria criação.

Por se tratar de um registro dotado de uma abordagem bastante particular, DNA é um trabalho que exige uma audição cautelosa por parte do ouvinte. Longe do imediatismo de Picolé de demais composições que marcam o antigo projeto da musicista mineira, o repertório produzido em parceria com Thiago Braga, o Rapaz do Dread, segue em um ritmo próprio. Canções formadas a partir de fragmentos instrumentais que mudam de direção sem aviso prévio. É como se tudo aquilo que foi revelado por Cavanellas em mais de uma década de carreira fosse aos poucos desconstruído e reorganizado de um jeito torto pela compositora.

Exemplo disso fica bastante evidente nas duas primeiras composições do disco que foram apresentadas ao público. Enquanto Ego surge como um bolero totalmente desconstruído, fazendo da voz um elemento de natureza fluida, Cavalo vai ainda ainda mais longe. São batidas irregulares, ruídos e experimentações com a música eletrônica se projetam de forma sempre irregular, como um remix futurístico daquilo que a artista havia testado no Rosa Neon. Mesmo velhas conhecidas, como Calçada, canção originalmente lançada por Bernardo Bauer no álbum Pássaro-Cão (2019), ganha novo e inusitado tratamento por parte de Cavanellas.

Claro que esse esforço em brincar com as possibilidades em nenhum momento interfere na apresentação de faixas deliciosamente acessíveis, destacando a curiosa interpretação de Cavanellas sobre a música pop. Sexta composição do disco, Vapor talvez seja a principal representação desse resultado. Pouco mais de dois minutos em que a cantora transita em meio a versos provocantes e diálogos com os ritmos latinos de maneira inebriante. Mesmo quando se aprofunda em temas como maternidade e as coisas simples da vida, marca da preciosa Mamãe, difícil não se deixar seduzir pelo direcionamento adotado pela artista mineira.

Ainda assim, são os instantes de maior corrupção estética e busca por novas possibilidades que tornam a audição de DNA fascinante. Do lento desvendar de informações que marca a introdutória Álcool, passando pelo flerte com o trip-hop, na poderosíssima Boca, sobram momentos em que a obra de Cavanellas assume percursos inimagináveis quando voltamos os ouvidos para os antigos trabalhos da compositora. Nada que prepare o ouvinte para o que se revela na segunda metade do registro, quando a voz da cantora atravessa blocos de ruídos e ambientações abstratas, como em Sangue, música que evoca Elis Regina em sua melhor forma, porém, partindo de uma abordagem particular, torta, conceito também explícito em Onda do Mar.

Embora fundamental para o desenvolvimento do disco, esse mesmo caráter experimental que orienta parte das canções vez ou outra consome a experiência do ouvinte e prejudica a formação do álbum. A própria voz de Cavanellas, sempre tão impactante, surge irreconhecível em diferentes momentos, se espalhando em uma massa de sons disformes que parecem se estender para além do necessário, dificultando o contato com o material. Ideias e atravessamentos constantes que, para o bem ou para o mal, evidenciam a potência da artista, reapresentando-a em um formato próximo e ao mesmo tempo distante dos antigos trabalhos.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.