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Crítica

Marissa Nadler

: "The Path of the Clouds"

Ano: 2021

Selo: Sacred Bones

Gênero: Dream Pop, Folk

Para quem gosta de: Beach House e Julia Holter

Ouça: Couldn't Have Done the Killing e Bessie, Did You Make It?

7.8
7.8

Marissa Nadler: “The Path of the Clouds”

Ano: 2021

Selo: Sacred Bones

Gênero: Dream Pop, Folk

Para quem gosta de: Beach House e Julia Holter

Ouça: Couldn't Have Done the Killing e Bessie, Did You Make It?

/ Por: Cleber Facchi 12/11/2021

Se em início de carreira Marissa Nadler parecia investir na produção de obras totalmente reducionistas, com o passar dos anos, a cantora e compositora norte-americana decidiu seguir o caminho oposto a esse resultado. Longe do isolamento autoimposto, a musicista atuante na região de Boston, Massachusetts, tem investido na construção de registros sempre abertos ao criativo diálogo com diferentes colaboradores, proposta reforçada durante o lançamento de Droneflower (2019), bem-sucedido encontro com o multi-instrumentista e produtor Stephen Brodsky (Converge, Cave In), mas que ganha ainda maios destaque no fino repertório que embala as composições de The Path of the Clouds (2021, Sacred Bones Records).

Primeiro trabalho em carreira solo desde o material entregue em For My Crimes (2018), o registro parece seguir a trilha soturna que tem sido incorporada pela artista nas últimas duas décadas, porém, partindo de uma abordagem parcialmente distinta. Longe das ambientações acústicas e propositada economia dos elementos, Nadler se entrega ao uso de faixas consumidas pelo uso atmosférico das guitarras, acréscimos e ruídos ocasionais, como um complemento direto aos versos que se espalham em meio a narrativas não lineares, personagens ambíguos, medos e mistérios não resolvidos, base para grande parte do álbum.

E isso fica bastante evidente logo nos minutos iniciais da obra. Escolhida para inaugurar o disco, Bessie, Did You Make It? busca inspiração na história real de um casal que, em 1928, desapareceu durante uma travessia pelas corredeiras do rio Colorado. É como se Nadler folheasse as páginas de um livro de mistério ou mergulhasse de cabeça em documentários sobre o insólito, direcionamento reforçado na já conhecida Couldn’t Have Done The Killing, faixa em que preserva a essência do restante da álbum, porém, estabelece no uso dos próprios sentimentos e conflitos pessoais um precioso elemento de amarra conceitual.

Uma vez imersa nesse ambiente em preto e branco em que histórias reais se entrelaçam a temas sentimentais, Nadler faz de cada música um objeto a ser observado de maneira isolada pelo ouvinte. São canções com início, meio e fim, como fragmentos de uma extensa antologia poética e instrumental. Composições dotadas de uma abordagem bastante similar, sempre homogêneas, porém, independentes e abertas ao diálogo com diferentes colaboradores. Entre os convidados, nomes como Simon Raymonde (Cocteau Twins), a harpista Mary Lattimore e a cantora Emma Ruth Rundle que surgem e desaparecem durante toda a execução de The Path of the Clouds, ampliando de forma bastante expressiva os limites da obra.

Vem justamente desse intenso processo criativo o estímulo para algumas das principais faixas do disco. É o caso de If I Could Breathe Underwater, música que segue exatamente de onde a cantora parou no disco anterior, porém, encanta pelas paisagens instrumentais detalhadas por Lattimore. O mesmo refinamento acaba se refletindo minutos à frente, na dobradinha composta por Turned Into Air e And I Dream of Running. São ambientações sutis, mas que se completam pelas vozes dobradas e sentimentos detalhados entre Nadler e Rundle, como um avanço claro em relação ao material entregue no restante do disco.

Dos poucos momentos em que passeia solitária pelo interior do trabalho, a cantora mantém firme o mesmo esmero no processo de criação. São músicas como Well Sometimes You Just Can’t Stay e a derradeira Lemon Queen em que Nadler traz de volta a essência econômica dos primeiros registros autorais. Mesmo a construção dos versos, sempre intimistas, contribui para esse resultado, efeito direto do lirismo melancólico que estreita com naturalidade a relação com o ouvinte. Instantes em que a artista, assim como no disco anterior, costura passado e presente da própria obra em um evidente exercício de domínio criativo.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.