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Crítica

Matheus Mota

: "Tribufu"

Ano: 2023

Selo: Independente

Gênero: Indie, Jazz, Rock Psicodélico

Para quem gosta de: Tatá Aeroplano e Bonifrate

Ouça: Abacate Verde e Gêmeas Siamesas

7.5
7.5

Matheus Mota: “Tribufu”

Ano: 2023

Selo: Independente

Gênero: Indie, Jazz, Rock Psicodélico

Para quem gosta de: Tatá Aeroplano e Bonifrate

Ouça: Abacate Verde e Gêmeas Siamesas

/ Por: Cleber Facchi 23/02/2023

É sempre difícil prever cada novo movimento de Matheus Mota. E isso fica bastante evidente no curioso repertório montado para Tribufu (2023, Independente). Primeiro álbum de inéditas do cantor, compositor e pianista pernambucano desde o material entregue no inusitado As Palavras Voam (2017), trabalho em que adapta a carta de Michel Temer à Dilma Rousseff, o disco de doze composições oscila entre cenas simples do cotidiano e momentos do maior delírio, como um passeio pela mente inquieta do próprio artista. São criações que vão de um canto a outro de forma a distorcer e brincar com a interpretação do ouvinte.

Canção de abertura do trabalho, Abacate Verde funciona como uma boa representação desse resultado. Partindo de uma base de pianos sempre destacados, Mota segue em um misto de canto e rima que se completa pela letra existencialista, utilizando de uma receita culinária para mergulhar em reflexões sobre amadurecimento e pequenas transformações pessoais. É como um lento desvendar de informações, estrutura que se completa pela colaboração dos músicos Bruno Duarte (bateria), Matheus Dalia (baixo), Rodrigo Marques (Saxofone) e Thiago Gadelha (percussão), parceiros em parte expressiva do registro.

A partir desse ponto, Mota se concentra na formação de músicas que ora utilizam de uma abordagem deliciosamente experimental, ora esbarram em uma estranha interpretação do pop tradicional. Desse primeiro agrupamento, surgem canções como a delirante faixa-título. Pouco mais de quatro minutos em que o pianista convida o ouvinte a se perder em um ambiente de emanações jazzísticas, quebras e curvas ocasionais. Mesmo a voz da cantora e compositora Katarina Nápoles, que já passou por diferentes projetos da cena pernambucana, surge como um instrumento complementar, ampliando os limites da composição.

E ela está longe de ser a única a impressionar pelos detalhes. Do dedilhado acústico que corre ao fundo de Bagageiro, passando pelas oscilações de Abriremos Domingo, ao curioso diálogo com o samba em Chorando Pitangas, cada composição destaca o refinamento instrumental e parece transportar o ouvinte para um novo e sempre inusitado território criativo. Nada que diminua o impacto de canções regidas em essência pelas vozes e lirismo torto de Mota. É o caso de Gêmeas Siamesas, música que se espalha em meio a versos descritivos, fazendo de uma simples consulta ao dentista o estímulo para uma experiência mágica.

É como se Mota partisse de observações aleatórias e pequenos fluxos de pensamento que se conectam diretamente aos temas instrumentais da obra. “Não sei se acredito mais nos caminhos que essa melodia traça enquanto estou pensando nisso“, detalha em Cósmica, composição que funciona como uma boa representação de tudo aquilo que o músico pernambucano busca desenvolver ao longo da obra. Dessa forma, cada faixa funciona como um objeto isolado. Canções que se resolvem por conta própria, como um regresso ao som exploratório testado pelo artista nos antecessores Desenho (2012) e Almejão (2014).

Se por um lado esse direcionamento torna a experiência de ouvir o trabalho imprevisível, por outro, tende a prejudicar a audição do material. São estruturas irregulares que apontam para diferentes direções criativas, esbarrando em formações instrumentais que pouco dialogam. O próprio andamento rítmico dado ao disco segue de forma bastante particular. É como um espaço aberto ao desvendar de informações e busca por novas possibilidades. Canções que partem de uma abordagem característica de Mota, por vezes herméticas em excesso, mas que estabelecem pequenas brechas para atrair e capturar atenção do ouvinte.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.