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Crítica

Maya Hawke

: "Moss"

Ano: 2022

Selo: Mom+Pop

Gênero: Folk

Para quem gosta de: Clairo e Lomelda

Ouça: Sweet Tooth e Thérèse

7.5
7.5

Maya Hawke: “Moss”

Ano: 2022

Selo: Mom+Pop

Gênero: Folk

Para quem gosta de: Clairo e Lomelda

Ouça: Sweet Tooth e Thérèse

/ Por: Cleber Facchi 05/10/2022

A graciosidade explícita na obra de Maya Hawke está longe de se resumir apenas aos trabalhos da artista em produções cinematográficas ou mesmo séries de TV, vide o papel de Robin Buckley, em Stranger Things. Desde que deu vida ao primeiro álbum de estúdio, Blush (2020), a cantora e compositora tem feito das próprias criações a passagem para um território marcado pela sutileza dos elementos e forte aspecto emocional. São composições marcadas pelo reducionismo dos arranjos, mas que encantam pela forma como Hawke amplia sentimentos, conflitos e experiências simples do cotidiano de maneira sempre tocante.

Segundo e mais recente álbum da artista em carreira solo, Moss (2022, Mom+Pop) não apenas preserva a essência do registro que o antecede, como potencializa o refinamento estético, lírico e instrumental de Hawke durante toda sua execução. Pela primeira vez acompanhada pelo produtor e multi-instrumentista Benjamin Lazar Davis (Okkervil River), além de contar com o suporte do compositor Christian Lee Hutson, a cantora se aprofunda na construção de um repertório que se divide entre ambientações econômicas e versos confessionais que continuam a ecoar na cabeça do ouvinte mesmo após o encerramento da obra.

A diferença em relação ao trabalho entregue há dois anos, conceitualmente marcado pelo uso de temas sentimentais e momentos de maior vulnerabilidade, está na forma como Hawke se permite provar de novas possibilidades a aportar em outros territórios criativos de forma sempre detalhista. São versos descritivos, diferentes personagens, cenas e acontecimentos que se cruzam em um incessante fluxo de informações, proposta que faz lembrar dos lançamentos mais recentes de Taylor Swift. A própria artista detalhou em diversas entrevistas o quanto Folklore (2020) serviu de inspiração para o repertório apresentado em Moss.

Um bom exemplo disso acontece em Sweet Tooth, quarta faixa do disco. Enquanto a base esquelética da canção ganha forma em meio a batidas e guitarras sempre calculadas, Hawke canta sobre uma sessão em um cinema vazio, um dente quebrado e até sobre uma suspeita de evasão fiscal da própria mãe, a atriz Uma Thurman. Essa mesma riqueza de detalhes, porém, partindo de uma abordagem transformada, acaba se refletindo em Thérèse, delicada criação em que parte de observações sobre a pintura Teresa Sonhando (1938), do artista francês Balthus, para mergulhar em um território pontuado por questões existenciais.

Mesmo quando se aprofunda em conflitos intimistas, como em Luna Moth, prevalece o refinamento dado aos versos. “Eu não preciso de ninguém para me machucar / Eu posso fazer isso sozinha“, canta. Dessa forma, Hawke traz de volta uma série de elementos originalmente testados no trabalho anterior, porém, dotados de uma carga emocional e riqueza de detalhes ainda maior. São composições que encolhem e crescem a todo instante, como um passeio torto pela mente, momentos de maior angústia e pequenas celebrações vividas pela artista, direcionamento que se reflete até os momentos finais de Mermaid Bar.

Marcado pelo amadurecimento lírico e busca da artista por diferentes temáticas, Moss chama a atenção pelo evidente salto criativo de Hawke em um curto intervalo de tempo, porém, sustenta na construção dos arranjos a entrega de um repertório ainda marcado pelo conforto e forte similaridade com o registro anterior. São canções que partem de uma abordagem exageradamente discreta, estrutura que potencializa o desenvolvimento dos versos, porém, diminui o alcance do material que continua a dar voltas dentro de um mesmo território criativo. Composições que avançam em estúdio, porém de forma sempre comedida.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.