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Crítica

Spellling

: "Mazy Fly"

Ano: 2019

Selo: Sacred Bones Records

Gênero: Art Pop, Experimental

Para quem gosta de: Jenny Hval e Julia Holter

Ouça: Under The Sun e Haunted Water

8.0
8.0

“Mazy Fly”, Spellling

Ano: 2019

Selo: Sacred Bones Records

Gênero: Art Pop, Experimental

Para quem gosta de: Jenny Hval e Julia Holter

Ouça: Under The Sun e Haunted Water

/ Por: Cleber Facchi 27/02/2019

Ouvir o trabalho de Chrystia Cabral no Spellling é como se perder em um universo marcado pela constante transformação e curioso diálogo da artista com diferentes campos da música. Décadas de referências e pequenas variações estéticas que se moldam de forma totalmente incerta, mágica. Uma estrutura torta que vem sendo reformulada pela artista de Oakland, Califórnia, desde o eletrônico Pantheon Of Me (2017), mas que assume novo e refinado direcionamento nas canções do segundo e mais novo álbum de estúdio da musicista, o sombrio Mazy Fly (2019, Sacred Bones Records).

Climático quando próximo do registro que o antecede, o novo álbum subtrai o peso das batidas e variações eletrônicas que dialogavam com as pistas para aproximar o ouvinte de um som conceitualmente místico, por vezes atmosférico. São paisagens instrumentais que se revelam ao público sem pressa, como uma névoa de experiências melódicas e ambientações soturnas que parece cobrir toda a superfície do registro.

Não por acaso, Cabral escolheu justamente a sombria Hunted Water como uma das primeiras composições a serem apresentadas ao público. São pouco menos de cinco minutos em que texturas eletrônicas e sintetizadores lentos transportam o ouvinte para o início dos anos 1980. Instantes em que a musicista norte-americana parece dialogar com a obra de Kate Bush, Dead Can Dance e demais representantes da música gótica, eletrônica e pop etéreo produzido durante esse período.

Em Under The Sun, sexta faixa do disco, o mesmo direcionamento estético, porém, trabalhado de forma ainda mais acessível, dançante. É como se Cabral tingisse de preto as luzes neon e brilho nostálgico da música disco, transportando o ouvinte para um território ora provocativo, ora libertador. A mesma tentativa em dialogar com uma parcela maior do público ecoa com naturalidade em músicas como o pop alienígena de Afterlife e Secret Thread, canções em que a cantora se aproxima do mesmo pop conceitual de nomes como Björk e Jenny Hval, ampliando os limites da própria obra.

Interessante perceber como Cabral resgata uma série de elementos originalmente testados no álbum anterior, porém, dentro de uma nova estrutura criativa. É o caso de Hard To Please. Concebida em meio a sintetizadores e colagens minimalistas que apontam para a obra de veteranos como The Knife, a faixa preserva a essência eletrônica de Pantheon Of Me ao mesmo tempo em que amplia a ambientação soturna de Mazy Fly, direcionamento também explícito na curtinha Melted Wings e no som retro-futurístico da derradeira Falling Asleep.

Produzido, composto e tocado inteiramente por Cabral, Mazy Fly incorpora desde temas raciais, como na provocativa Hunted Waters, até composições de essência contemplativa, resultando em um passeio pela mente e principais inquietações da musicista norte-americana, vide Under The Sun. O mais interessante talvez seja perceber a forma como a artista mantém firme o diálogo com o próprio público, revelando pequenas brechas instrumentais e poéticas que servem de passagem para novos e velhos ouvintes.


Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.