Image
Crítica

Mc Tha

: "Meu Santo É Forte"

Ano: 2022

Selo: Elemess

Gênero: Pop, MPB, Funk

Para quem gosta de: Jaloo e Rico Dalasam

Ouça: São Jorge, Agolonã e Afreketê

8.0
8.0

MC Tha: “Meu Santo É Forte”

Ano: 2022

Selo: Elemess

Gênero: Pop, MPB, Funk

Para quem gosta de: Jaloo e Rico Dalasam

Ouça: São Jorge, Agolonã e Afreketê

/ Por: Cleber Facchi 26/08/2022

Em um cenário marcado pelo crescente aumento no número de casos de intolerância contra religiões de matriz africana, muitos deles estimulados por pastores evangélicos neopentecostais, ouvir as canções de Meu Santo É Forte (2022, Elemess) ganha novo significado. Mais recente lançamento da cantora e compositora paulistana MC Tha, o trabalho de cinco faixas segue de onde a artista parou há três anos, durante a apresentação do introdutório Rito de Passá (2019), porém, parte de uma abordagem ainda mais específica, proposta que vai da minuciosa construção das batidas à montagem do repertório afro-religioso.

Conhecida pelo trabalho como compositora, a artista que já colaborou com nomes como Emicida e Jaloo, esse último, parceiro de longa data, decidiu seguir por um caminho diferente para o sucessor do álbum que revelou preciosidades como Coração Vagabundo e Comigo Ninguém Pode. São cinco releituras de canções com temática religiosa que integram a obra de Alcione. Um curioso processo criativo que partiu do contato de MC Tha com o repertório da cantora maranhense dentro do terreiro em que frequenta, mas que ganha novo e delicado tratamento no diálogo com o produtor baiano Mahal Pita (Rico Dalasam, BaianaSystem).

Embora inaugurado pela atmosférica Agolonã, música apresentada por Alcione no álbum Morte de Um Poeta (1976), sobrevive na criação seguinte, São Jorge, uma síntese clara de tudo aquilo que MC Tha busca desenvolver ao longo da obra. Ponto de partida para a criação do registro, a faixa, inicialmente pensada para as apresentações ao vivo da cantora, concentra o que há de melhor e mais característico no som de Meu Santo É Forte. Instantes em que a artista resgata o frescor pop das canções de Rito de Passá, porém, completa pelas vozes da Comunidade Jongo Dito Ribeiro e o trecho final declamado por Sueide Kintê.

Essa mesma combinação de elementos fica ainda mais evidente com a canção seguinte do trabalho, Figa de Guiné. Naturalmente íntima de tudo aquilo que Mahal Pita tem produzido ao longo da última década, a faixa parte de uma base voltada ao axé, porém, de maneira sempre atualizada, direcionamento que vai do uso das vozes à completa versatilidade das batidas. É como uma interpretação urgente, mas não menos detalhista da versão original da composição, um samba de Nei Lopes e Reginaldo Bessa lançado em um compacto no início dos anos 1970 por Alcione e resgatado posteriormente em uma coletânea da artista.

Nada que se compare ao material entregue logo em sequência, com Afreketê. Parte do álbum Nosso Nome Resistência (1987), a composição, originalmente marcada pelo coro de vozes, percussão e uso destacado dos instrumentos, talvez seja a releitura que mais passou por alterações no repertório de Meu Santo É Forte. Com produção assinada em parceria com MU540 (Tasha & Tracie, Febem), a faixa costura passado e presente em uma abordagem deliciosamente frenética. São batidas e bases cíclicas, estrutura que se completa pela voz forte de MC Tha, como se pensada para crescer nas apresentações ao vivo da cantora.

Passado esse momento de maior euforia, Corpo Fechado encerra o trabalho em uma combinação de elementos que concentra o que há de mais característico no som explorado em Meu Santo É Forte. São fragmentos que partem de um universo bastante particular de MC Tha, como o trecho extraído de um vídeo do YouTube e as vozes da Comunidade Jongo Dito Ribeiro, mas que em nenhum momento deixam de dialogar com a obra de Alcione. Um delicado exercício criativo que parte do repertório montado para o registro, mas que ganha ainda mais destaque no projeto visual Clima Quente Show, trabalho inspirado pelo programa Alerta Geral, apresentado pela artista maranhense entre o final dos anos 1970 e início da década de 1980, e uma extensão imagética do que se traduz em poesia, ritmo e apreço pela cultura afro-brasileira.

Ouça também:

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.