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Crítica

Megic Eric

: "Vida Comum (Realismo Fantástico)"

Ano: 2023

Selo: Rizz 4 Music

Gênero: MPB, Indie Pop

Para quem gosta de: Ana Frango Elétrico e Rubel

Ouça: Vida Comum, Ao Meio e Teu Calor

8.0
8.0

Megic Eric: “Vida Comum (Realismo Fantástico)”

Ano: 2023

Selo: Rizz 4 Music

Gênero: MPB, Indie Pop

Para quem gosta de: Ana Frango Elétrico e Rubel

Ouça: Vida Comum, Ao Meio e Teu Calor

/ Por: Cleber Facchi 27/11/2023

Embora desfocada, a fotografia que estampa a capa de Vida Comum (Realismo Fantástico) (2023, Rizz 4 Music) abre passagem para um universo de cores vivas e formas instrumentais bastante nítidas. Primeiro trabalho de estúdio do cantor, compositor e produtor carioca Eric Guimarães Camargo, o Megic Eric, o registro de dez faixas encanta pela sensibilidade dos temas e sempre minuciosa combinação de estilos que transita por diferentes campos da música brasileira e internacional. Composições que, em sua maioria, começam pequenas, ganham forma aos poucos e explodem em uma intensa combinação de sensações.

Parte desse resultado veio do lento processo de desenvolvimento do trabalho. Gravado entre dezembro de 2019 e janeiro de 2023, o registro destaca o meticuloso processo de criação do músico que contou com o suporte do coprodutor Guilherme Lirio, artista que já colaborou com nomes como Ana Frango Elétrico e Bruno Bruni. De fato, ainda que carregue o nome de Eric, difícil não pensar em Vida Comum (Realismo Fantástico) como uma obra colaborativa, efeito direto do vasto time de parceiros que surgem ao longo do material, como a cantora Dora Morelenbaum, o saxofonista Milton Guedes e o percussionista Marcelo Costa.

Toda essa combinação de elementos, diferentes estilos e parceiros resulta na apresentação de uma obra essencialmente versátil, por vezes irregular nesses estranhos cruzamentos de ritmos, porém, fascinante durante toda sua execução. A própria composição de abertura, Vida Comum, com seus naipes de metais, vozes e detalhes percussivos, funciona como uma boa representação desse resultado. Pouco mais de cinco minutos em que o artista canta sobre a passagem do tempo e as coisas simples da vida ao mesmo tempo em que convida o ouvinte a mergulhar em um cenário musicalmente marcado pelos pequenos detalhes.

É como se cada composição servisse de passagem para um novo território criativo. Em Teu Calor, são as guitarras atmosféricas e linha de baixo destacada que aponta diretamente para as criações de Djavan na década de 1980. Minutos à frente, em Toda Natureza, arranjos acústicos e inserções reducionistas vão de encontro ao folk norte-americano, como uma fuga do material entregue na canção anterior. Surgem ainda preciosidades como Ao Meio, faixa adornada pela sutileza das flautas e percussão caprichada que partilha de elementos do som produzido na região Nordeste do país, como uma música perdida de Gilberto Gil.

Interessante notar que mesmo capaz de dialogar com as criações de diferentes nomes da nossa música, o artista carioca em nenhum momento perde a própria identidade. Enquanto os versos destacam o lirismo contemplativo da trabalho, como um passeio pela mente e as experiências vividas pelo cantor, quebras ocasionais, pequenas sobreposições e mudanças bruscas de ritmo rompem com qualquer traço de morosidade, deixando uma marca única no registro. São vinhetas e interlúdios, como em (vish / de areia) e (ahahahha…) que tornam a audição totalmente imprevisível, jogando com a interpretação do ouvinte.

Mesmo quando utiliza de uma abordagem regular, como em Um Dia Qualquer, há sempre um elemento de encanto, seja ele poético ou instrumental, destacando o domínio de Megic Eric durante toda a execução do material. Composições que apontam para os mais variados campos da música, confessam referências e partilham sentimentos em um delicado exercício criativo que não apenas cumpre a função de apresentar o compositor, como apontam caminhos para o que quer que o artista possa revelar em um futuro próximo.

Ouça também:

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.