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Crítica

Metá Metá

: "Metá Metá"

Ano: 2011

Selo: Independente

Gênero: Jazz, MPB, Samba

Para quem gosta de: Serena Assumpção e Passo Torto

Ouça: Trovoa, Obatalá e Obá Iná

9.3
9.3

Metá Metá: “Metá Metá”

Ano: 2011

Selo: Independente

Gênero: Jazz, MPB, Samba

Para quem gosta de: Serena Assumpção e Passo Torto

Ouça: Trovoa, Obatalá e Obá Iná

/ Por: Cleber Facchi 08/01/2020

Embrião conceitual de toda uma sequência de obras que viriam a abastecer o samba torto paulistano, a estreia do Metá Metá permanece como um dos registros mais inventivas e particulares da música brasileira em sua fase mais recente. Concebido em meio a instantes de propositado minimalismo (Vale do Jucá, Umbigada) e composições deliciosamente grandiosas (Obá Iná, Ora Iê Iê O), o trabalho gestado de forma colaborativa entre Juçara Marçal (voz), Kiko Dinucci (guitarra) e Thiago França (saxofone) utiliza dessa dualidade como um estímulo para capturar a atenção do ouvinte. Instantes em que o grupo paulistano vai da ancestralidade africana ao caos urbano, da vanguarda paulista ao jazz em uma linguagem propositadamente irregular, porém, sempre precisa, como e se cada integrante da banda assumisse uma função específica para o crescimento do álbum.

Entretanto, para além de um minucioso exercício estético, nenhum outro registro apresentado pelo trio paulistano reflete tamanha vulnerabilidade na composição dos versos quanto o autointitulado debute. Do romantismo agridoce que invade a letra de Papel Sulfite (“Peço que você aplique tudo em nós dois / Nós dois daqui pra frente / Não sei que bicho isso vai dar, mas peço / Vamos lá, meu bem, experimente“), passando pela delicada interpretação de Trova, música originalmente composta por Mauricio Pereira (“Se você for embora eu vou virar mendigo / Eu não sirvo pra nada / Não vou ser seu amigo / Fique / Fica comigo“), evidente é a força dos sentimentos e entrega impressa em cada fragmento do disco. Mesmo a instrumental Obatalá, com seus arranjos jazzísticos e vocalizações etéreas de Marçal, reflete o esmero da tríade na formação de cada elemento. Um resumo precioso e ainda hoje surpreendente de tudo aquilo que o Metá Metá viria a produzir ao longo da década.



Este texto faz parte da nossa lista com Os 100 Melhores Discos Brasileiros dos Anos 2010 que será publicada ao longo das próximas semanas. São revisões mais curtas ou críticas reescritas de alguns dos trabalhos apresentados ao público na última década. Leia a publicação original.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.