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Crítica

MIKE

: "Beware of the Monkey"

Ano: 2022

Selo: 10k

Gênero: Rap

Para quem gosta de: Earl Sweatshirt e Navy Blue

Ouça: Nuthin I Can Do Is Wrng e Stop Worry!

8.0
8.0

MIKE: “Beware of the Monkey”

Ano: 2022

Selo: 10k

Gênero: Rap

Para quem gosta de: Earl Sweatshirt e Navy Blue

Ouça: Nuthin I Can Do Is Wrng e Stop Worry!

/ Por: Cleber Facchi 03/01/2023

Perto de completar dez anos de atuação, Michael Jordan Bonema, o MIKE, segue tão imprevisível hoje quanto em início de carreira. Mais recente criação do rapper norte-americano, Beware of the Monkey (2022, 10k) é uma boa representação desse resultado. Do momento em que tem início, na ambientação nostálgica e batidas fragmentadas de Nuthin I Can Do Is Wrng, composição de abertura do disco, cada elemento do registro produzido por DJ Blackpower, uma das identidades adotadas pelo artista, destaca o lirismo torto e fino toque de delírio que orienta com incerteza a experiência do ouvinte ao longo da obra.

Sequência ao elogiado Disco! (2021), Beware of the Monkey, como tudo aquilo que MIKE tem produzido desde a década passada, gira em torno das relações familiares, crises existenciais e experiências vividas pelo artista residente em Nova Iorque. São canções essencialmente curtas, resolvidas em um intervalo de pouquíssimos minutos, porém, marcadas por diferentes camadas instrumentais, retalhos de vozes e bases parcialmente submersas, proposta que dialoga com as criações de contemporâneos como Earl Sweatshirt e Navy Blue. É como se diferentes fragmentos fossem condensados pelo rapper dentro da cada composição.

E isso fica ainda mais evidente no repertório de Beware of the Monkey. Quinta faixa do disco, No Curse Lifted (Rivers of Love) funciona como uma boa representação desse resultado. São pouco menos de dois minutos em que o artista parte de uma base sampleada de forma rudimentar, utiliza de captações de campo e segue por diferentes direções criativas enquanto sustenta nos versos um misto de angústia (“Tive que passar pela dor, foi o pior sentimento“) e melancólica celebração (“Você diz que ama as coisas que eu faço querida princesa / Acabamos de completar outro show“), como uma soma das próprias vivências.

Embora utilize de uma abordagem bastante particular, centrada nos conflitos e realizações do artista, Beware of the Monkey talvez seja o trabalho em que MIKE melhor estreita relações com diferentes colaboradores em estúdio. Exemplo disso fica bastante evidente em Stop Worry, música que chama a atenção pela inusitada participação da jamaicana Sister Nancy, um dos nomes mais importantes do dancehall. O mesmo acontece em Ipari Park, composição que destaca a força das rimas, porém, cresce no uso complementar das vozes da multiartista britânica Klein, parceira durante toda a execução da faixa.

Mesmo quando desfila solitário pelo interior do disco, MIKE utiliza de mensagens de voz enviadas pelo celular para complementar e ampliar parte expressiva das canções. É o caso de Swoosh 23, composição que parte de uma base cíclica de pianos, porém, cresce na emocionante registro de áudio compartilhado pela irmã do artista. O próprio rapper utiliza de pequenos fragmentos e reflexões pessoais como ponto de estímulo para a construção dos versos, direcionamento reforçado nos minutos iniciais de As 4 Me. “Essa é a minha única chance de provar para todos vocês que eu sou o melhor rapper na porra do mundo“, anuncia.

Entre retalhos instrumentais, captações caseiras e sentimentos compartilhados à distância, MIKE faz de Beware of the Monkey uma de suas obras mais pessoais e sensíveis. O próprio artista detalhou no texto de apresentação do disco que o registro nasceu como uma forma de agradecimento a todas as pessoas que o cercam, amigos e familiares. Canções marcadas pelo forte aspecto emocional e pequenos traços criativos que invariavelmente apontam para os antigos trabalhos do rapper, porém, nunca consumidas pelo óbvio, vide a propositada irregularidade que orienta a construção das faixas durante toda a execução do material.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.