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Crítica

MJ Lenderman

: "Manning Fireworks"

Ano: 2024

Selo: Anti-

Gênero: Rock

Para quem gosta de: Wednesday e Waxahatchee

Ouça: She's Leaving You e Jocker Lips

8.8
8.8

MJ Lenderman: “Manning Fireworks”

Ano: 2024

Selo: Anti-

Gênero: Rock

Para quem gosta de: Wednesday e Waxahatchee

Ouça: She's Leaving You e Jocker Lips

/ Por: Cleber Facchi 13/09/2024

MJ Lenderman é um verdadeiro contador de histórias. Sempre acompanhado de sua guitarra, o cantor e compositor norte-americano passeia em meio a momentos de intensa desilusão, personagens ambíguos e instantes de maior fragilidade emocional, mas que nunca perdem o senso humor. São composições que evocam notórios sofredores, como Neil Young, Jason Molina e David Berman, porém mantendo sempre um sorriso no canto da boca, como uma assinatura particular e irônica que caracteriza a obra de Lenderman.

Quarto e mais recente álbum de estúdio do guitarrista de Asheville em carreira solo, Manning Fireworks (2024, Anti-) talvez seja o exemplo mais representativo disso. Sequência ao material apresentado em Boat Songs (2022), o trabalho segue de onde o músico parou há dois anos, porém substitui as observações sobre o cenário ao redor para mergulhar em faixas cada vez mais pessoais. É como se Lenderman, pela primeira vez, se revelasse por completo para o ouvinte, o que não diminui o tom cômico do disco de nove canções.

Quantas estradas um homem deve / Andar até aprender”, questiona Lenderman em Rudolph, composição em que utiliza de um acidente envolvendo Rudolph, a rena do nariz vermelho, e o personagem Relâmpago Mcqueen, do filme Carros (2006), para refletir sobre a própria postura inconsequente e antigas questões religiosas. Mesmo a faixa-título do trabalho, posicionada logo na abertura do material, funciona como um precioso indicativo do que será apresentado ao público. “Você já foi um bebê, e agora é um idiota”, canta.

Claro que essa postura escapista e maquiagem cômica aplicada aos versos não interfere na construção de canções profundamente emocionais. É o caso de Joker Lips. Enquanto as guitarras avançam aos poucos, o músico se entrega: “E você sabe que eu amo minha TV / Mas tudo o que eu realmente quero ver, é ver que você precisa de mim”. A própria Bark at the Moon, com suas guitarras que colapsam de forma a soterrar o trabalho em ruídos, é outra que parece reforçar isso. “Perdi meu senso de humor”, confessa Lenderman.

Nada que prepare o ouvinte para a dilacerante She’s Leaving You. Em um intervalo de quatro minutos, o músico documenta de forma visceral os instantes finais de um relacionamento. “Tudo desmorona / Todos nós temos trabalho a fazer / Fica escuro … Ela está te deixando”, canta Lenderman. A partir desse ponto, Manning Fireworks perde totalmente seu brilho, desaba emocionalmente em Rip Torn e You Don’t Know the Shape I’m In, se entrega ao álcool em On My Knees e segue até a dolorosa canção de encerramento.

Interessante notar que, embora marcado pelo forte aspecto pessoal, Manning Fireworks talvez seja o disco em que Lenderman mais se aproxima de outros colaboradores. É o caso do coprodutor Alex Farrar, que assume um papel ainda maior em relação ao álbum anterior, além, claro, dos companheiros de banda no Wednesday, com quem divide parte dos arranjos e vozes. É como se o músico e seus parceiros seguissem de onde pararam no último ano, em Rat Saw God (2023), o que diminui parte da sensação de originalidade da obra, mas nunca a intensidade dos arranjos e a força avassaladora que orienta a formação dos versos.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.