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Crítica

Model/Actriz

: "Dogsbody"

Ano: 2023

Selo: True Panther

Gênero: Indie Rock, Noise Rock

Para quem gosta de: Special Interest e Liars

Ouça: Amaranth e Crossing Guard

8.3
8.3

Model/Actriz: “Dogsbody”

Ano: 2023

Selo: True Panther

Gênero: Indie Rock, Noise Rock

Para quem gosta de: Special Interest e Liars

Ouça: Amaranth e Crossing Guard

/ Por: Cleber Facchi 02/03/2023

Conceitualmente ambientado entre o fim de tarde e o alvorecer, Dogsbody (2023, True Panther), estreia do quarteto nova-iorquino Model/Actriz, é uma delirante aventura poética que atravessa as ruas de uma grande metrópole em busca de libertação sexual, novas descobertas e pequenos excessos. Exemplo disso isso fica bastante evidente na introdutória Donkey Show, música que parte das experiências do vocalista Cole Haden em aplicativos como Grindr, mas que se completa pelo insano cruzamento de informações proposto pelos parceiros Jack Wetmore (guitarra), Ruben Radlauer (bateria) e Aaron Shapiro (baixo).

Com a direção apontada logo nos minutos iniciais do trabalho, cada composição parece servir de base para a música seguinte. São ruídos metálicos, guitarras sempre invasivas e batidas que se orientam a experiência do ouvinte de maneira totalmente frenética. É como um regresso ao mesmo território criativo explorado por veteranos como Liars e outros nomes importantes da cena nova-iorquina dos anos 2000, porém, partindo por um precioso senso de atualização que vai da urgência dos arranjos à construção das letras. “Eu quero esta vida, eu quero esta vida“, repete Haden em Mosquito, canção que passeia em meio a paisagens descritivas e versos que funcionam como um mergulho na mente inquieta do protagonista.

Nada que prepare o ouvinte para o material entregue em Crossing Guard. Pouco mais de quatro minutos em que somos transportados para um cenário que combina “chuva, vapor e velocidade“, referencia Lady Gaga e destaca a potência das batidas e guitarras, como uma soma do que há de mais excitante na obra do quarteto nova-iorquino. Tudo é tão intenso que Slate, vinda logo em sequência, é praticamente engolida pela canção. São estruturas e timbres bastante similares, proposta que contribui para o ambiente caótico e forte sensação de desnorteamento estimulado pela banda, mas que tende ao uso de pequenas repetições.

Dos poucos momentos em que desacelera, Haden e seus parceiros abrem passagem para o lado mais contemplativo, mas não menos exploratório de Dogsbody. É o caso de Divers, composição que divide o álbum ao meio e potencializa o aspecto existencial dado aos versos. “Eu pareço encontrá-lo, mas não dentro de mim“, canta. É como um respiro breve que antecede a turbulência proposta em Amaranth, música que encolhe e cresce a todo instante, lembrando os momentos de maior desespero de nomes como Nine Inch Nails. “Veja meu corpo carregado, estilhaçando / E eu me lembro de queimar tudo“, desaba.

Esse mesmo caráter angustiado fica ainda mais evidente nos versos berrados da canção seguinte, Pure Mode, música que parte de uma ambientação contida, porém, cresce aos poucos, arremessando o ouvinte para dentro de um cenário de formas inexatas, quebras e momentos de maior experimentação. Um turbulento exercício criativo que parece pensado para sufocar o ouvinte, direcionamento reforçado minutos à frente, em Maria. “Ele me segura com olhos que cantam / Eu não sou o homem para ele“, detalha Haden em meio a guitarras sempre labirínticas e sujas, como um aceno para as criações do Sonic Youth.

É partindo justamente dessa proposta que o grupo abre passagem para Sleepless. Enquanto os versos reforçam a sensação de movimento que orienta a obra (“Estamos no caminho do horizonte e seus olhos estão fechados“), ambientações ruidosas contribuem para o sufocamento do ouvinte, como um acumulo natural de tudo aquilo que o quarteto tem explorado desde os minutos iniciais. Não por acaso, com a chegada de Sun In e consequente fechamento do trabalho, a banda utiliza de uma abordagem diferente. Um delicado exercício de libertação sentimental, poético e instrumental, mas que em nenhum momento apaga as marcas e toda a experiência caótica detalhada pela narrativa torta que conduz o material.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.