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Crítica

Mogwai

: "As the Love Continues"

Ano: 2021

Selo: Rock Action

Gênero: Pós-Rock, Rock Alternativo, Instrumental

Para quem gosta de: Godspeed You! Black Emperor e Explosions In The Sky

Ouça: Pat Stains e Drive The Nail

8.0
8.0

Mogwai: “As the Love Continues”

Ano: 2021

Selo: Rock Action

Gênero: Pós-Rock, Rock Alternativo, Instrumental

Para quem gosta de: Godspeed You! Black Emperor e Explosions In The Sky

Ouça: Pat Stains e Drive The Nail

/ Por: Cleber Facchi 25/02/2021

Mesmo perto de completar três décadas de carreira, o Mogwai segue como um dos nomes mais inventivos da cena escocesa. Em As the Love Continues (2021, Rock Action), décimo álbum de estúdio do grupo formado por Stuart Braithwaite, Dominic Aitchison, Martin Bulloch e Barry Burns, cada música funciona como um aceno para os introdutórios Mogwai Young Team (1997), Come On Die Young (1999) e Rock Action (2001), porém, preservando o frescor e busca do quarteto de Glasgow por novas possibilidades criativas, conceito que se reflete tão logo o trabalho tem início, em To the Bin My Friend, Tonight We Vacate Earth, e segue até o último segundo do registro.

Na contramão dos últimos trabalhos de estúdio, Rave Tapes (2014) e Every Country’s Sun (2017), inclinados ao uso de temas atmosféricos e diálogos com a produção eletrônica, As the Love Continues alcança um ponto de equilíbrio entre a calmaria e o caos. São delicadas camadas instrumentais que servem de alicerce para a inserção de guitarras sujas e batidas sempre destacadas, como momentos de calmaria que antecedem instantes de maior turbulência. Canções pensadas de conduzir a experiência do público, indicativo do completo domínio do grupo em relação à própria obra.

Exemplo disso pode ser percebido na crescente Pat Stains. Pouco menos de sete minutos em que o quarteto parte de uma base reducionista, porém, estabelece na criativa sobreposição dos elementos a passagem para um dos momentos de maior comoção da obra. São guitarras cristalinas que se entrelaçam em meio a camadas sintetizadores, texturas granuladas e blocos de ruídos. Mesmo o saxofone de Colin Stetson, músico norte-americano que já trabalhou com nome como Arcade Fire e Bon Iver, assume uma posição de destaque, funcionando como uma voz fantasmagórica que surge e desaparece em momentos estratégicos durante toda a execução da faixa.

Esse mesmo direcionamento pode ser percebido em outras composições ao longo da obra. São músicas como Here We, Here We, Here We Go Forever e Drive the Nail em que o grupo parte de uma atmosfera contida, incorpora diferentes abordagens criativas e distancia o ouvinte de uma possível zona de conforto. Salve exceções, como a atmosférica Dry Fantasy, são poucos os momentos em que o quarteto mantém firme uma estrutura linear dentro do álbum, se permitindo transitar por entre gêneros de forma sempre detalhista. Canções que encolhem e crescem a todo instante, jogando com a interpretação do público mesmo nos momentos de maior calmaria.

Nesse sentido, As the Love Continues soa como uma continuação do material entregue pelo grupo em Hardcore Will Never Die, But You Will (2011), porém, incorporando frações dos temas eletrônicos explorados em Rave Tapes (2014). Perfeita representação desse resultado pode ser percebida na intensa Ceiling Granny. São pouco mais de três minutos em que o quarteto mantém firme a crueza das guitarras enquanto administra uma dose extra de efeitos e sintetizadores. A própria Ritchie Sacramento, uma das primeiras faixas do disco a serem apresentadas ao público, mantém firme esse mesmo cruzamento de ideias, ganhando ainda mais destaque na letra inspirada pela morte de David Berman (Silver Jews), Scott Hutchison (Frightened Rabbit) e outros artistas próximos da banda.

Produto da colaboração entre o quarteto de Glasgow e o produtor norte-americano Dave Fridmann (The Flaming Lips, Mercury Rev), parceiro desde o disco anterior, As the Love Continues concentra o que há de melhor na obra do grupo escocês. Da versatilidade explícita nas guitarras à força das batidas, há tempos o Mogwai não se mostrava tão disposto e intenso dentro de estúdio. Ainda que muito do material entregue ao longo do trabalho pareça adaptar uma série de conceitos originalmente testados em outros registros da banda, difícil não se deixar guiar pelo fino repertório que embala a experiência do ouvinte durante toda a execução do álbum.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.