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Crítica

Montañera

: "A Flor De Piel"

Ano: 2023

Selo: Western Vinyl

Gênero: Art Pop

Para quem gosta de: Marina Herlop e Lido Pimienta

Ouça: Santa Mar e Un Dia Voy A Ser Mariposa

7.8
7.8

Montañera: “A Flor De Piel”

Ano: 2023

Selo: Western Vinyl

Gênero: Art Pop

Para quem gosta de: Marina Herlop e Lido Pimienta

Ouça: Santa Mar e Un Dia Voy A Ser Mariposa

/ Por: Cleber Facchi 31/01/2024

A voz é a principal ferramenta de trabalho de María Mónica Gutiérrez em A Flor De Piel (2023, Western Vinyl). Mais recente álbum de estúdio da cantora e compositora colombiana sob a identidade criativa de Montañera, o registro de essência reducionista parte das inquietações vividas pela musicista além-mar, depois que deixou a região de Bogotá, na Colômbia, para estudar e residir em Londres, na Inglaterra. São canções que servem de passagem para um universo sempre intimista, direcionamento que se reflete na introdutória faixa-título, mas que ganha diferentes nuances e tonalidades à medida que o disco avança.

Não por acaso, logo na faixa seguinte, Vestígios, são os sintetizadores e bases ruidosas que falam mais alto. Enquanto os versos mais uma vez se aprofundam na mente e nas angústias da compositora colombiana, ambientações se projetam de forma quase contrastante, lembrando as criações de Björk em Vulnicura (2015). Nada que Santa Mar, vinda logo em sequência, não dê conta de perverter. Com a percussão em primeiro plano, Gutiérrez mais uma vez cria espaço para a inserção das vozes que se projetam de forma ritualística, como uma interpretação totalmente atualizada dos cantos folclóricos da região onde cresceu.

Com a chegada da posterior Tú – El Borde de Mi Arista, Gutiérrez continua a se aventurar na interpretação de ritmos locais, porém, partindo de uma abordagem fragmentada. Do uso picotado das vozes, passando pela inserção dos sintetizadores e batidas reducionistas, tudo se projeta de forma calculada, evidenciando a relação da artista com a produção eletrônica. A diferença em relação a outros exemplares recentes do gênero, como Madres (2023), da peruana Sofia Kourtesis, está no caráter orgânico do registro, como se a cantora nunca ultrapassasse o que parece ser um limite pré-definido durante toda a execução do material.

É como se para cada momento de maior experimentação, Gutiérrez revelasse uma contraparte que leva o disco para outra direção. Exemplo disso fica bastante evidente na sequência formada por Como Una Rama e Bajar. Enquanto a primeira destaca o que há de mais provocativo no tipo de som produzido pela cantora, como um remix torto das criações de Marina Herlop, com a composição seguinte, o ouvinte é mais uma vez transportado para um novo território. São estruturas antagônicas que, embora fundamentais para o álbum, criam uma sensação de previsibilidade, como se fosse possível antecipar cada movimentos da artista.

Vem justamente desse esforço em romper com a própria lógica a chegada de Me Suelto al Riesgo, música marcada pela riqueza das vozes, mas que sustenta no uso das cordas e produção cristalina uma espécie de respiro dentro do trabalho. É como um lento desvendar de informações, evidenciando a sensibilidade de Gutiérrez que ainda usa da canção como um preparativo para o material entregue na potente Un Día Voy a Ser Mariposa. Concebida em uma medida particular de tempo, a composição ganha forma aos poucos, mergulhando em uma ambientação densa que acolhe na mesma intensidade em que tensiona o ouvinte.

Passado esse momento de maior turbulência, A Flor De Piel mais uma vez desacelera, trata das vozes de Gutiérrez com maior limpidez e encaminha o disco para seus momentos finais com a chegada de Cruzar. Embora livre de complexidade explícita em outros momentos ao longo do material, difícil não pensar na canção como uma síntese conceitual do registro, efeito direto da experimentação sutil, uso das batidas e bases que se conectam diretamente aos versos lançados pela artista. Um jogo de pequenos acréscimos e subtrações que evidenciam o meticuloso processo de criação adotado durante toda a execução da obra.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.