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Crítica

Moons

: "Best Kept Secret"

Ano: 2022

Selo: Balaclava Records

Gênero: Indie, Sophisti-Pop

Para quem gosta de: Jennifer Souza e Luiza Brina

Ouça: Let’s Do It All Again e Low Key

8.0
8.0

Moons: “Best Kept Secret”

Ano: 2022

Selo: Balaclava Records

Gênero: Indie, Sophisti-Pop

Para quem gosta de: Jennifer Souza e Luiza Brina

Ouça: Let’s Do It All Again e Low Key

/ Por: Cleber Facchi 06/07/2022

De uma elegância inigualável, os integrantes da Moons, banda de Belo Horizonte formado pelos músicos André Travassos (violão, guitarra e voz), Jennifer Souza (violão, guitarra e voz), Bernardo Bauer (baixo e voz), Rodrigo Leite (guitarra e voz), Felipe D’Angelo (sintetizadores e voz) e Pedro Hamdan (bateria e voz), atravessaram a segunda metade última da década em uma sequência de registros marcados pelo refinamento estético e minucioso processo de criação. São trabalhos como Songs of Wood & Fire (2016), Thinking Out Loud (2018) e Dreaming Fully Awake (2019) em que cada mínimo fragmento instrumental e poético assume uma função importante dentro do ambiente à meia-luz proposto pelo grupo mineiro.

Dessa forma, ao mergulhar nas canções de Best Kept Secret (2022, Balaclava Records), quarto e mais recente trabalho de estúdio do sexteto belo-horizontino, é bastante natural esperar por uma possível continuação do som primoroso que tem sido explorado pela banda desde o primeiro registro de inéditas. De fato, bastam os minutos iniciais da introdutória The Will to Change para perceber que está tudo lá. São ambientações acústicas, vozes sempre trabalhadas em uma medida própria de tempo e acréscimos sutis que ganham forma em uma trama sempre reducionista, por vezes discreta, livre de prováveis excessos.

Entretanto, mesmo nesse cenário marcado pela familiaridade dos elementos e forte aproximação entre as faixas, não são poucos os momentos de maior ruptura que surgem de forma a capturar a atenção do ouvinte. Exemplo disso fica bastante evidente na curta duração de Another You. Enquanto a letra parte de uma delicada reflexão sobre a morte (“Eles colocam seu nome / Em alguma avenida distante / Agindo como eles se importam”), arranjos cuidadosamente trabalhados em estúdio apontam para diferentes direções criativas. Pouco menos de três minutos em que o grupo parte do som econômico que tem sido explorado desde Songs of Wood & Fire para mergulhar em um ambiente de emanações latinas e jazzísticas.

Esse mesmo esforço em provar de novas possibilidades ecoa de forma ainda mais eficiente na já conhecida Let’s Do It All Again. Sem necessariamente perder o refinamento que parece bastante característico do grupo mineiro, a faixa evidencia o que há de mais acessível no som produzido pela Moons. Da fluidez dada às batidas e guitarras que apontam para o soul/funk dos anos 1970, tudo parece pensado para envolver o ouvinte, estranhamente convidado a dançar em uma composição que trata sobre partidas e recomeços. A própria Low Key, logo na abertura do registro, utiliza de uma aceleração pouco usual dentro dos trabalhos da banda, soando como uma inusitada combinação entre as criações de artistas como Wilco e Beck.

Parte dessa mudança de direção vem do próprio processo de criação do trabalho. Diferente dos discos anteriores, gravados ao vivo, o grupo, mais uma vez acompanhado pelo produtor Leonardo Marques (Isabel Lenza, Teago Oliveira), primeiro registrou as bases de cada canção e, em seguida, utilizou da inserção de novos instrumentos, como o destacado uso do vibrafone. Mesmo a presença de Lucca Noacco, responsável pelos arranjos de cordas e sopros do álbum, trouxe maior profundidade ao repertório. Dessa forma, mesmo músicas bastante características, como a atmosférica faixa-título, ganham novo tratamento.

Para além do empenho em utilizar de novas abordagens e romper, mesmo que de maneira sutil, com a ambientação contida dos registros que o antecedem, Best Kept Secret é um trabalho que encanta pelo refinamento dado aos versos. Na contramão de outros exemplares recentes, também influenciados pelo período pandêmico, o álbum chama a atenção pelo uso de faixas que se aprofundam em temas como morte e solidão, porém, dotadas de uma serenidade rara. É como um exercício marcado pelo evidente equilíbrio e domínio da banda mineira, conceito que tem sido aprimorado desde as primeiras empreitadas em estúdio.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.