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Crítica

Mount Kimbie

: "MK 3.5: Die Cuts | City Planning"

Ano: 2022

Selo: Warp

Gênero: Eletrônica, R&B

Para quem gosta de: Joy Orbison e James Blake

Ouça: In Your Eyes e Satellite 9

6.3
6.3

Mount Kimbie: “MK 3.5: Die Cuts / City Planning”

Ano: 2022

Selo: Warp

Gênero: Eletrônica, R&B

Para quem gosta de: Joy Orbison e James Blake

Ouça: In Your Eyes e Satellite 9

/ Por: Cleber Facchi 17/11/2022

Desde o início da carreira, a beleza do som produzido pelo Mount Kimbie sempre residiu na capacidade de Kai Campos e Dominic Maker em condensar diferentes informações e décadas de referências em um repertório essencialmente curto. A própria estreia da dupla, com Crooks & Lovers (2010), um dos marcos do pós-dubstep, funciona como uma boa representação desse resultado. Pouco menos de 40 minutos em que os dois produtores transitam por entre estilos e propostas criativas, porém, preservando a própria identidade, conceito reforçado em Cold Spring Fault Less Youth (2013) e Love What Survives (2013).

Triste perceber em MK 3.5: Die Cuts | City Planning (2022, Warp) uma obra que não apenas perverte essa abordagem equilibrada dos dois produtores, como ainda peca pelo excesso. Da mesma forma que muitos trabalhos assumidos por diferentes duplas criativas, vide Speakerboxxx/The Love Below (2003), do Outkast, o primeiro álbum de inéditas do Mount Kimbie em cinco anos é um registro em que cada produtor assume uma porção específica do disco. O resultado desse processo está na entrega de repertório exageradamente extenso. São 23 faixas que se espalham em um intervalo de quase 60 minutos de duração.

Para a primeira metade do registro, intitulado Die Cuts, a produção do repertório ficou ao encargo de Maker. Salve exceções, como Heat on, Lips on e Need U Tonight, em que desfila solitário, a ideia do produtor foi desenvolver uma obra regida pelo forte aspecto colaborativo. São canções marcadas pelo diálogo com artistas vindos dos mais variados campos da música. O destaque, assim como nos álbuns anteriores do Mount Kimbie, prevalece na construção de faixas que destacam a potência das rimas, como na conhecida In Your Eyes, junto de slowthai e Danny Brown, e If And When, excelente parceria com Wiki.

No restante de Die Cuts, Maker mergulha de cabeça no R&B. São canções bem desenvolvidas, como Tender Hearts Meet The Sky, com KeiyaA, e A Deities Encore, em colaboração com Liv.E, mas que parecem muito mais com criações das próprias convidadas do que necessariamente uma som do Mount Kimbie. E isso fica ainda mais evidente no reencontro com James Blake, em Somehow She’s Still Here. Da base adornada pelo uso de pianos melancólicos, passando pelos vocais sempre carregados de efeitos, tudo soa como uma extensão do material apresentado pelo artista no ainda recente Friends That Break Your Heart (2021).

Já em City Planning, assumido integralmente por Campos, a proposta se concentra na formação das batidas. Misto de continuação e criativo regresso ao território criativo explorado em Cold Spring Fault Less Youth, o trabalho rapidamente conduzi o ouvinte em direção às pistas, proposta reforçado na potente Q. Mesmo quando utiliza de uma abordagem marcada pelo experimentalismo dos elementos, como em Quartz e Satellite 9, o produtor em nenhum momento rompe com esse mesmo direcionamento estético. Pena que muitas dessas canções parecem esqueléticas, como se clamassem pelas vozes da metade inicial.

Nesse sentido, tanto Maker quanto Campos garantem ao público um repertório marcado pelo esmero e evidente domínio técnico, porém, consumido pela sensação de insuficiência. Enquanto Die Cuts peca pela ausência de ritmo e proposta criativa que valoriza os convidados e oculta o próprio realizador, City Planning parece dar voltas em torno de um mesmo conjunto de ideias que destaca a formação de músicas ainda incompletas. Duas abordagens distintas, mas que apenas reforçam o óbvio, indicando que força do som produzido pelo Mount Kimbie sobrevive no encontro e efetivo equilíbrio entre os dois produtores.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.