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Crítica

MUNA

: "MUNA"

Ano: 2022

Selo: Saddest Factory / Dead Oceans

Gênero: Synthpop, Pop Rock

Para quem gosta de: HAIM, Shura e The 1975

Ouça: Silk Chifon e Anything But Me

7.5
7.5

MUNA: “MUNA”

Ano: 2022

Selo: Saddest Factory / Dead Oceans

Gênero: Synthpop, Pop Rock

Para quem gosta de: HAIM, Shura e The 1975

Ouça: Silk Chifon e Anything But Me

/ Por: Cleber Facchi 11/07/2022

Katie Gavin, Josette Maskin e Naomi McPherson já haviam dado uma boa mostra do próprio trabalho no evidente salto criativo que marca a transição entre o primeiro registro de inéditas do MUNA, About U (2017), e o sucessor Saves the World (2019). Entretanto, é com a chegada do terceiro e mais recente trabalho de estúdio que a banda californiana de fato diz a que veio. Longe do controle excessivo da RCA, o trio, que assinou com a Saddest Factory, braço da Dead Oceans criado pela cantora Phoebe Bridgers, parece ter se encontrado criativamente, provando de novas direções criativas, temáticas e possibilidades.

Não por acaso, a banda de Los Angeles decidiu convidar a própria Bridgers para assumir parte das vozes e versos da introdutória Silk Chiffon. Enquanto a letra da composição se aprofunda na delicadeza vivida em um romance lésbico (“Ela disse que eu a tenho se eu quiser / Ela é tão macia quanto um chiffon de seda / É assim que eu a sinto, quando ela está em mim“), camadas de guitarra se revelam ao público em pequenas doses. É como um exercício de transição para o uso destacado dos sintetizadores e batidas eletrônicas que não apenas ganham forma, como orientam a experiência do ouvinte até os minutos finais do registro.

Com todos esses elementos apresentados logo nos minutos iniciais do material, o trio californiano se concentra na montagem de um repertório que parece maior e ainda mais acessível do que os registros que o antecedem. Difícil passar por músicas como Anything But Me e não ser prontamente atraído pelo som produzido pela banda. São guitarras, sintetizadores, batidas e vozes cuidadosamente trabalhadas em estúdio, proposta que esbarra na atmosfera nostálgica das conterrâneas do HAIM, vide a forte similaridade com as canções de Women in Music Pt. III (2020), porém, preservando a identidade e essência do MUNA.

E isso fica ainda mais evidente nos momentos em que o registro desacelera para mergulhar em canções marcadas pela forte vulnerabilidade dos temas. É o caso de Kind Of Girl. Partindo de uma base acústica, a faixa sustenta nos versos uma delicada reflexão sobre amor próprio, traumas e aceitação, conceito reforçado em cada mínimo fragmento trabalhado ao longo da composição. “Eu sou o tipo de garota / Que é dona de todas as minhas falhas / Quem está aprendendo a rir de todas elas / Como se eu não fosse um problema para resolver“, detalha em um doloroso, porém, necessário exercício de exposição sentimental.

São essas pequenas oscilações emocionais e contrastes entre uma composição e outra que tornam a experiência de ouvir o registro tão interessante. A própria sequência de abertura funciona como uma boa representação desse resultado. Passada a entrega de Silk Chiffon, interessante perceber em What I Want, Runner’s High e Home By Now um ziguezaguear de ideias que evidenciam a busca do trio em ampliar os próprios horizontes. E isso fica ainda mais interessante em No Idea. Composta em parceria com Mitski, a faixa não apenas concentra uma série de elementos bastante característicos do disco, como ainda presta uma homenagem ao pop produzido nos anos 1990, vide a referência a Everybody, dos Backstreet Boys.

Marcado pela completa versatilidade dos elementos e esforço da banda em transitar por entre estilos de forma sempre coesa, difícil não pensar no terceiro álbum de estúdio da MUNA como um recomeço para o trio californiano. Mesmo longe de parecer um registro original, efeito da forte similaridade com as criações de HAIM, Snail Mail e outros tantos artistas marcados pelo mesmo direcionamento estético, tudo soa de maneira bastante consistente e fresca quando voltamos os ouvidos para os trabalhos anteriores. É como se, pela primeira vez, o grupo de Los Angeles fosse devidamente apresentado aos próprios ouvintes.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.