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Crítica

Mutual Benefit

: "Growing at the Edges"

Ano: 2023

Selo: Transgressive

Gênero: Folk

Para quem gosta de: Sufjan Stevens e Julie Byrne

Ouça: Untying A Knot e Wasteland Companions

7.8
7.8

Mutual Benefit: “Growing at the Edges”

Ano: 2023

Selo: Transgressive

Gênero: Folk

Para quem gosta de: Sufjan Stevens e Julie Byrne

Ouça: Untying A Knot e Wasteland Companions

/ Por: Cleber Facchi 02/02/2024

Mais de uma década depois de ser oficialmente apresentado ao público com o lançamento do delicado Love’s Crushing Diamond (2013), Jordan Lee continua a surpreender em mais um novo disco de inéditas como Mutual Benefit, Growing at the Edges (2023, Transgressive). Próximo e ao mesmo tempo distante de tudo aquilo que o músico tem incorporado desde o início da carreira, o registro de dez faixas chama a atenção pelo maior refinamento dado aos arranjos. São composições que preservam as habituais bases acústicas do instrumentista, porém, partindo de uma lapidação ainda maior na formatação dos arranjos.

Inaugurado pela própria faixa-título, Growing at the Edges utiliza dos mais de cinco minutos da composição para ambientar o ouvinte. “Se o tempo é um rio / E a dor é um professor / Então vamos pular juntos“, canta Lee em meio a ambientações sutis, arranjos de cordas e vozes complementares que aos poucos trazem de volta a mesma atmosfera explícita na obra de coletivos como The Decemberists. Parte desse resultado vem do evidente esforço do artista em estreitar laços com novos colaboradores em estúdio, rompendo com o reducionismo dos antigos trabalhos para revelar ao público um registro essencialmente orgânica, vivo.

Não por acaso, cada faixa parece servir de passagem para a música seguinte, vide a delicada introdução proposta em Remembering a Dream, com seus arranjos de cordas, pianos e elementos percussivos que abrem caminho para a posterior Beginner’s Heart. Essa forte musicalidade acaba se refletindo até mesmo na construção dos versos. “E se o amor pudesse se mover através de mim / Seu caos faria uma sinfonia?“, questiona Lee que, passado esse turbilhão sentimental, poético e instrumental, logo mergulha em outro momento de maior sutileza, vide o esperado respiro criativo proposto pelo artista na curtinha Prefiguring.

Embora previsível, essa direção adotada pelo artista, sempre pontuada por momentos grandiosos e atos de parcial calmaria, em nenhum momento deixa de encantar o ouvinte. A própria decisão do compositor em trabalhar determinados instrumentos dentro de cada canção torna isso ainda mais perceptível, vide a inserção dos sopros em Untying A Knot, composição que leva o disco para outras direções. Já Season of Flame, minutos à frente, mais uma vez posiciona os pianos e arranjos de corda em primeiro plano, como um jogo de pequenos contrastes dentro de um território criativo orientado por regras bastante específicas.

O mais interessante talvez seja perceber como, em momentos específicos ao longo da obra, todos esses elementos parecem convergir para um ponto específico. E isso fica bastante evidente no que talvez seja uma das principais faixas do disco, Wasteland Companions. São pouco mais de cinco minutos em que Lee utiliza da inserção e subtração dos elementos para ampliar os limites da própria criação. Mesmo a percussão, tão discreta durante toda a execução do material, ganha novos contornos. Por fim, o músico ainda abre passagem para econômica Winter Sun, Cloudless Sky, como um complemento sutil da canção.

Passado esse jogo de pequenos acréscimos, curvas e quebras instrumentais, Lee encaminha o disco para fechamento. Uma das primeiras composições do trabalho a serem reveladas ao público, Little Ways ganha novo significado ao ser posicionada próxima ao encerramento do registro, tingindo Growing at the Edges com uma melancolia fina. É como o último grande movimento poético do compositor antes da chegada de Signal to Bloom, faixa que mais uma vez deixa os versos em segundo plano para destacar as ambientações que acompanham o ouvinte desde a canção de abertura, pontuando o álbum com uma consistência única.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.