Ano: 2024
Selo: Independente
Gênero: Rap
Para quem gosta de: Emicida, Servo e Negra Li
Ouça: Risco da Profissão e Confissões de um Vira-Lata
Ano: 2024
Selo: Independente
Gênero: Rap
Para quem gosta de: Emicida, Servo e Negra Li
Ouça: Risco da Profissão e Confissões de um Vira-Lata
A palavra é a principal ferramenta de trabalho para Bruna Helena Fagundes de Olivera, a Nabru. Nascida na cidade de Belo Horizonte e criada na região de Pedreira Prado Lopes, uma das favelas mais antigas da capital mineira, a artista radicada em São Paulo divide suas funções entre as rimas e o estudo na faculdade de Letras, na USP. Dessa rica combinação de elementos vem o estímulo para o primeiro álbum de estúdio da rapper, Desenredo (2024, Independente), material que parte de um poema homônimo da conterrânea Adélia Prado, porém, serve de passagem para um universo particular da compositora belo-horizontina.
Como indicado na simplicidade da própria imagem de capa, uma fotografia de João Medeiros, Desenredo se revela ao público como um trabalho livre de possíveis excessos. Na contramão de grande parte do rap nacional, hoje dominado por vozes maquiadas pelo auto-tune, acenos ao pop e produções cada vez mais grandiosas, Nabru acerta justamente ao investir em uma abordagem reducionista. Canções talvez distantes de grandes atos instrumentais, mas que encantam pela força das narrativas e uso inteligente das rimas.
Exemplo disso fica bastante evidente logo nos primeiros minutos do trabalho, em Das Pressas e das Preces. São jogos de palavras e pequenas combinações líricas que não apenas evidenciam o domínio de Nabru na construção dos versos, como criam um cenário ao redor e, pouco a pouco, revelam o que se esconde no interior da própria artista. Formações poéticas que tratam sobre a saudade de casa e ainda referenciam nomes como Racionais MC’s, Sabotage e Emicida sem necessariamente ocultar essência da rapper mineira.
“Por onde eu vou eu observo os muros / Onde eu me encaixo você nem acredita”, dispara em Confissões de um Vira-Lata, música que destaca o forte aspecto confessional do registro, apresenta Nabru por completo e ainda cria uma conexão sonora e poética com o passado da artista, tão interessada pela literatura quanto pela experiência como pichadora. É como se cada composição revelasse uma parte da rapper, como em Risco da Profissão, criação em que ainda utiliza trechos de uma entrevista da escritora Clarice Lispector.
Embora gire em torno das vivências, tormentos e relações de Nabru, Desenredo a todo momento estreita laços com diferentes parceiros criativos que levam o trabalho para outras direções. Alguns, surgem nos bastidores, como o seleto time de produtores formados por SonoTWS, Ciano, EricBeatz, Gust e GvTx. Já outros, como Matheus Coringa, Bonsai e Alra Alves, assumem uma posição de destaque, complementando as rimas de maneira eficiente, ampliando os domínios da obra e levando o material para outras direções.
Evidentemente, esse amplo catálogo de informações, diferentes parceiros criativos e mudanças de percurso no decorrer da obra tendem a comprometer a estrutura do material. São músicas como Diamantes e Flor da Estação que, mesmo bem elaboradas, reforçando a versatilidade da artista em estúdio, soam de maneira deslocada. Apesar das pequenas inconsistências, Desenredo cumpre com a função de apresentar Nabru e ainda vai além, destacando o domínio e força criativa da rapper no sempre meticuloso uso das palavras.
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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.
Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.