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Crítica

Naima Bock

: "Giant Palm"

Ano: 2022

Selo: Sub Pop

Gênero: Indie Folk, Art Pop

Para quem gosta de: Tomberlin e Aldous Harding

Ouça: Dim Dum, O Morro e Giant Palm

7.6
7.6

Naima Bock: “Giant Palm”

Ano: 2022

Selo: Sub Pop

Gênero: Indie Folk, Art Pop

Para quem gosta de: Tomberlin e Aldous Harding

Ouça: Dim Dum, O Morro e Giant Palm

/ Por: Cleber Facchi 25/08/2022

Filha de pai brasileiro e mãe grega, Naima Bock nasceu em Glastonbury, passou parte da infância no Brasil e depois regressou à Inglaterra onde acabou vivendo em diferentes casas ao sudeste de Londres. Embora influenciada pela música produzida além-mar, principalmente o samba e a bossa nova, foi nos temas psicodélicos do Goat Girl, grupo em que atuou baixista, que a jovem artista ganhou maior notoriedade. Entretanto, depois de seis anos como integrante da banda, a musicista inglesa decidiu que era hora de buscar por novas possibilidades em estúdio e investir no repertório do primeiro álbum em carreira solo.

Livre da urgência que parecia orientar as criações da antiga banda, Giant Palm (2022, Sub Pop), estreia da artista inglesa, segue em uma medida própria de tempo. São vozes parcialmente arrastadas, respiros e momentos de maior contemplação, direcionamento anteriormente testado durante a entrega de 30 Degress e Berimbau, releitura de Baden Powell e Vinícius de Morais, mas que ganha novo resultado nas canções do presente disco. São ecos de Joni Mitchell e Shirley Collins, estrutura que se completa pelo permanente atravessamento de informações e produção delirante assinada pelo multi-instrumentista Joel Burton.

Primeira faixa do disco a ser revelada ao público, Every Morning funciona como uma boa representação desse resultado. Enquanto os versos se aprofundam em conflitos sentimentais e tormentos vividos pela própria artista (“É engraçado / Como a vida pode ser / Quando todos vão embora / Sozinha, mas não solitária“), fragmentos de vozes e momentos de maior experimentação evidenciam o esforço de Bock em testar os próprios limites. É como um campo permanentemente aberto às possibilidades, conceito que utiliza de diferentes estruturas, ritmos e formas instrumentais durante toda a execução do material.

E isso fica ainda mais evidente na canção seguinte, Dim Dum. Delineada por camadas de sintetizadores, a faixa se espalha em meio a vozes carregadas de efeitos, ruídos e ambientações etéreas que convidam o ouvinte a se perder em um labirinto de sensações. É como se Bock seguisse de onde Cassandra Jenkins parou há poucos meses, durante o lançamento de An Overview on Phenomenal Nature (2021), porém, partindo de uma abordagem totalmente particular. Um lento desvendar de informações, proposta que volta a se repetir minutos à frente, em Campervan, composição que evoca a boa fase de Milton Nascimento.

Se por um lado essa sobreposição de ideias e criativo diálogo de Bock com a obra de diferentes artistas torna o processo de escuta do álbum bastante satisfatório, por outro, o excesso de informações tende a consumir a experiência do ouvinte. É como se a musicista transportasse para dentro de estúdio décadas de informações e referências de forma essencialmente densa. O próprio ritmo dado ao registro parece contribuir para esse resultado moroso. E isso fica ainda mais evidente na segunda metade do trabalho, quando a cantora desacelera ainda mais para investir na formação de um repertório quase atmosférico.

O resultado desse processo está na entrega de uma obra que segue em uma medida própria de tempo, porém, gratifica o ouvinte a todo instante. A própria escolha de Bock em fechar o disco com a releitura de O Morro (Feio não é Bonito), música de Carlos Lyra e Gianfrancesco Guarnieri, funciona como um bom exemplo disso. São pequenos respiros criativos que borbulham durante toda a formação do trabalho. Composições que partem de um território criativo bastante particular, talvez desvendado em essência apenas pela artistas, mas que estabelecem momentos de maior leveza e evidente refinamento estético.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.