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Crítica

Nala Sinephro

: "Space 1.8"

Ano: 2021

Selo: Warp

Gênero: Jazz

Para quem gosta de: Nubya Garcia e Floating Points

Ouça: Space 8 e Space 4

8.8
8.8

Nala Sinephro: “Space 1.8”

Ano: 2021

Selo: Warp

Gênero: Jazz

Para quem gosta de: Nubya Garcia e Floating Points

Ouça: Space 8 e Space 4

/ Por: Cleber Facchi 22/09/2021

Feche os olhos por alguns instantes e deixe que a música produzida por Nala Sinephro transporte a sua mente. Multi-instrumentista, compositora e produtora belgo-caribenha que hoje reside em Londres, na Inglaterra, Sinephro estabelece no primeiro trabalho em carreira solo, Space 1.8 (2021, Warp), a passagem para um território mágico. São canções de essência cósmica que partem de uma base de sintetizadores enevoados, porém, assumem novos contornos e direções criativas à medida em que a musicista estreita a relação com um time seleto de colaboradores que vêm movimentando a cena britânica nos últimos anos.

São improvisos completos pela presença de nomes como James Mollison, do Ezra Collective, a sempre requisitada Nubya Garcia, a guitarrista Shirley Tetteh e uma frente de outros artistas, em sua maioria negros, filhos de imigrantes, que fizeram da cidade de Londres um importante epicentro criativo ao longo da última década. Entretanto, diferente de outros nomes da cena local, em essência guiados pela fluidez dos ritmos afro-caribenhos, Sinephro segue uma trilha particular. Do momento em que tem início, em Space 1, cada fragmento da obra se espalha em meio a captações totalmente abstratas, etéreas, mirando a produção transcendental de Alice Coltrane e outros nomes do jazz espiritual dos anos 1960 e 1970.

Nesse sentido, o registro vai de encontro ao mesmo território criativo do ainda recente e também espetacular Promises (2021), bem-sucedido encontro entre o saxofonista Pharoah Sanders, o produtor Floating Points e membros da Orquestra Sinfônica de Londres. Porém, enquanto o disco entregue em março segue uma estrutura pré-definida de atos crescentes que se complementam, em Space 1.8, a multi-instrumentista faz de cada composição um objeto isolado. Instantes em que Sinephro parte de uma base totalmente reducionista para se perder em um universo de cores, sobreposições e formas flutuantes.

E isso fica bastante evidente na música de encerramento do trabalho, Space 8. Pouco mais de 17 minutos em que Sinephro, também responsável pelas harpas cristalinas que orientam a formação do disco, conduz com leveza a experiência do ouvinte. São sintetizadores atmosféricos, sopros ocasionais e melodias submersas, como se pensadas para a formação de imagens quiméricas, sempre mutáveis. Em Space 1.8, a beleza do trabalho não está necessariamente na busca por respostas, mas em se deixar conduzir pelo lento desvendar de ideias e formas instrumentais que tingem com incerteza a formação do registro.

Claro que essa busca por um som atmosférico e misterioso, por vezes íntimo da música ambiente, em nenhum momento interfere na produção de faixas deliciosamente acessíveis. É o caso de Space 4. Partindo de uma base econômica, íntima de tudo aquilo que Sinephro busca desenvolver ao longo da obra, pouco a pouco a canção muda de direção de forma a potencializar o uso dos metais e elementos percussivos, como uma fuga do restante do álbum. Esse mesmo caráter inventivo acaba se refletindo minutos à frente, em Space 6, música que flerta com o samba, porém, cresce no sempre imprevisível encaixe dos instrumentos.

De essência contemplativa, como o produto final de um lento processo de amadurecimento artístico vivido pela compositora de apenas 22 anos, Space 1.8 evidencia o esmero e completa entrega da artista belgo-caribenha durante toda a execução do álbum. Ao mesmo em que estreita a relação com outros nomes importantes da cena inglesa, evidente é o esforço de Sinephro em trabalhar na construção a própria identidade. São décadas de referências, improvisos e colaborações ocasionais, porém, sempre imersas no ambiente de formas enevoadas e melodias celestiais que se espalham até o encerramento da obra.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.