Ano: 2024
Selo: Independente
Gênero: Rap
Para quem gosta de: Don L e Rico Dalasam
Ouça: Ninguém Morre e Machado de Xangô
Ano: 2024
Selo: Independente
Gênero: Rap
Para quem gosta de: Don L e Rico Dalasam
Ouça: Ninguém Morre e Machado de Xangô
Yopo é uma planta medicinal que, há milênios, tem sido usada em práticas xamânicas de povos indígenas espalhados por diferentes regiões da América do Sul, como Colômbia, Venezuela e Brasil. Um remédio de potencial alucinógeno que busca estimular o corpo, a mente e o espírito. Vem justamente do consumo em forma de rapé dessa substância que Carlos Eduardo da Silva, o Nego Gallo, encontrou o estímulo para as canções de essência transcendental que embalam o segundo e mais recente trabalho em carreira solo.
Sequência ao material entregue em Veterano (2019), Yopo (2024, Independente) segue de onde o artista parou há cinco anos, porém, de forma ainda mais complexa e liricamente interessante. São canções que partem de observações atentas sobre o cenário ao redor, mas a todo momento se voltam para a mente do rapper que, nos anos 2000, integrou o Costa a Costa, um dos projetos mais importantes do rap cearense.
A própria faixa de abertura, regida em essência pela voz e as inquietações do artista, funciona como uma boa representação desse resultado. Instantes em que Nego Gallo reflete sobre a situação do país durante o governo de Jair Bolsonaro, mergulha fundo nos próprios sentimentos e prepara o terreno para o restante do álbum. Composições que, mesmo dotadas de uma profundidade notável, em nenhum momento deixam de dialogar com o ouvinte, hipnotizado pelas rimas do rapper que demonstra todo seu domínio em estúdio.
E ele não vem desacompanhado. Em Machado de Xangô, por exemplo, é o antigo companheiro do Costa a Costa, o rapper Don L, que brilhantemente assume parte dos versos na canção que se aprofunda em temas como xenofobia. Nada que prepare o ouvinte para Ninguém Morre. Preciosa reflexão sobre as conquistas do povo preto, a faixa mais uma vez destaca a força das rimas de Nego Gallo, porém, cresce na chegada do conterrâneo Emiciomar e, principalmente, na força dos versos autobiográficos lançados por Rico Dalasam.
Mais do que um cuidadoso exercício lírico, Ninguém Morre ainda sintetiza de maneira bastante eficiente a rica musicalidade presente durante toda a execução do material. Da mesma forma que em Veterano, Nego Gallo parte do rap para mergulhar em outros gêneros, como o reggae, o trap, o bregafunk e até elementos de música latina, ampliando, em conjunto com os coprodutores Emiciomar e Leo Grijó, tudo aquilo que já havia testado em Veterano. É como um vasto catálogo de ideias, diferentes ritmos e novas possibilidades.
Naturalmente, esse esforço em transitar pelos mais variados estilos e estender a execução do disco para além do necessário é o que torna a segunda metade do trabalho menos interessante e consequentemente arrastada. Entretanto, mesmo quando começa a perder fôlego Yopo tem sempre uma canção que bota o registro de volta aos eixos. A própria música de encerramento do álbum, Hienas, é outra que destaca a riqueza das melodias e versos, evidenciando o capricho de Nego Gallo até os minutos finais do material
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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.
Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.