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Ano: 2024

Selo: Pias

Gênero: Rock, Soul

Para quem gosta de: PJ Harvey e Leonard Cohen

Ouça: Wild God, Joy e Long Dark Night

8.0
8.0

Nick Cave & The Bad Seeds: “Wild God”

Ano: 2024

Selo: Pias

Gênero: Rock, Soul

Para quem gosta de: PJ Harvey e Leonard Cohen

Ouça: Wild God, Joy e Long Dark Night

/ Por: Cleber Facchi 10/09/2024

Os trabalhos de Nick Cave & The Bad Seeds têm ficado cada vez mais esparsos, raros e consequentemente fascinantes. Cinco anos após o lançamento de Ghosteen (2019), disco inspirado pela morte do próprio filho, o cantor e compositor australiano ressurge com Wild God (2024, Pias), obra em que se divide entre a fé e a dúvida, busca respostas para questões existenciais e estabelece no diálogo com a música gospel, produto das orquestrações caprichadas de Warren Ellis, o estímulo para um de seus registros mais transcendentais.

Grandioso logo em seus minutos iniciais, Wild God estabelece na introdutória Song of the Lake parte dos elementos que serão ampliados ao longo do material. São camadas de sintetizadores e cordas que seguem de onde o músico e seus companheiros de banda pararam no registro anterior, porém substituindo a base eletrônica de outrora por um repertório essencialmente orgânico e adornado pelo coro de vozes. Canções que jamais economizam nos detalhes e buscam causar no ouvinte uma experiência próxima do religioso.

Exemplo máximo disso pode ser percebido na própria faixa-título do disco. Enquanto os versos partem de tormentos pessoais para discutir a força da natureza divina, a busca por conexão e o poder transformador das relações humanas, arranjos, batidas e vozes se entrelaçam de forma catártica. É como se o compositor resgatasse a carga religiosa de registros como The Good Son (1990), porém partindo de uma interpretação ainda mais complexa e musicalmente avassaladora, por vezes próxima de alcançar um êxtase espiritual.

Entretanto, diferente de outros exemplares do gênero, em que esses momentos de maior ebulição surgem em pontos estratégicos, Cave faz de cada composição um ato grandioso. Algumas, como Frogs, se articulam de maneira bastante imediata, capturando a atenção do ouvinte logo nos minutos iniciais. Já outras, como Final Rescue Attempt e Conversion, se revelam aos poucos, sem pressa, culminando em um fechamento que não apenas comove o ouvinte, como destaca ainda mais a exuberância dos arranjos, melodias e vozes.

Claro que, embora fascinantes, muitas dessas estruturas e temáticas acabam se repetindo ao longo da obra, criando uma desconfortável sensação de estagnação. O próprio Cave já havia apresentado muitos desses elementos no colaborativo Carnage (2021), trabalho assinado em parceria com Ellis em que antecipa uma série de conceitos aprimorados em Wild God. Todos esses componentes diminuem a sensação de impacto em torno do material, mas nunca a beleza do álbum, que ainda reserva algumas boas surpresas ao público.

É o caso O Wow O Wow (How Wonderful She Is). Dedicada à cantora e compositora australiana Anita Lane (1960 – 2021), com quem o cantor se envolveu romanticamente em diferentes momentos ao longo da vida, a música talvez seja a melhor composição de amor do artista desde a confessional Into My Arms. A própria adaptação do poema A Noite Escura da Alma, de São João da Cruz, em Long Dark Night, leva o repertório do disco para outras direções, evidenciando a força criativa e riqueza de ideias que move a obra de Cave.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.