Image
Crítica

Nicolas Geraldi

: "Em Outro Lugar do Céu"

Ano: 2024

Selo: Seloki Records

Gênero: Indie, Folk, MPB

Para quem gosta de: Boogarins e Chico Bernardes

Ouça: Sempre Há e Em Outro Lugar do Céu

7.8
7.8

Nicolas Geraldi: “Em Outro Lugar do Céu”

Ano: 2024

Selo: Seloki Records

Gênero: Indie, Folk, MPB

Para quem gosta de: Boogarins e Chico Bernardes

Ouça: Sempre Há e Em Outro Lugar do Céu

/ Por: Cleber Facchi 22/10/2024

Entre arranjos acústicos, harmonias de vozes e letras marcadas pela força dos sentimentos, Nicolas Geraldi faz de Em Outro Lugar do Céu (2024, Seloki Records) a passagem para um território criativo tão particular quanto altamente referencial. São ecos de veteranos da música brasileira produzida nas décadas de 1970 e 1980, como Milton Nascimento, Lô Borges e Beto Guedes, mas que em nenhum momento parecem ocultar a identidade, delicadeza e capacidade do compositor em dialogar com o ouvinte pela grandeza das emoções.

Exemplo disso fica bastante evidente na introdutória Vim da Solidão, composição que perverte o conceito de dor e utiliza disso como uma ferramenta de transformação pessoal. “Tudo que cresceu em mim / Vem da solidão”, canta Geraldi, reforçando o aspecto contemplativo que embala o disco. É como um passeio pela mente do artista, mas que em nenhum momento exclui o ouvinte desse processo, direcionamento reforçado em Sereno, com suas harmonias e versos esperançosos que vão ao encontro do Clube da Esquina (1972).

Embora fascinado pela música produzida há mais de cinco décadas, Geraldi, sempre em colaboração com o produtor Guilherme Lírio, mantém os dois pés bastante firmes no presente. Perfeita representação desse resultado pode ser percebida na lisérgica Sempre Há, canção que se entrega ao pop psicodélico de Tame Impala, Mac DeMarco e demais nomes recentes do gênero. A própria Eu Quis Mudar, vinda em sequência, é outra criação que concede ritmo e atualiza o que poderia facilmente se afogar em um mar de nostalgia.

Essa mesma força criativa no processo de composição fica ainda mais explícita com a chegada de Nuvem, música que deixa os versos de lado para destacar a potência das guitarras. É como um preparativo para a doce psicodelia que invade a própria faixa-título do disco, canção que evoca nomes como Boogarins e Tim Bernardes, porém, preservando a atmosfera transcendental e essência do artista carioca. Surgem ainda verdadeiras preciosidades, como Estrela, criação que acena para Tim Maia no inusitado flerte com o soul.

Passado esse momento de evidente ruptura, Em Outro Lugar do Céu mantém firme o capricho dos vocais, elementos percussivos e arranjos que ainda se abrem para a chegada de nomes como Dora Morelenbaum e Alberto Continentino, porém, começa a se repetir tematicamente. São composições como Lar e Sem Chão Vai Na Fé que, embora marcadas pelo esmero do artista, pouco acrescentam quando próximas de outras faixas que integram a primeira metade do disco. Nada que a delicada Sua Luz não dê conta de solucionar.

Marcada pelo reducionismo dos arranjos, a canção avança aos poucos, destacando o uso dos teclados que fazem lembrar de Guilherme Arantes e mais uma vez levam o disco para outras direções. Mesmo os vocais ganham novo tratamento, evidenciando a maciez das harmonias que passam a soar como um instrumento complementar. É como um lento desvendar de sensações, proposta que segue até a música seguinte, Terra Solar, faixa que resgata elementos testados ao longo da obra e encerra o álbum com a mesma delicadeza.

Ouça também:

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.