Image
Crítica

Nicolas Jaar

: "Piedras 1 / Piedras 2"

Ano: 2024

Selo: Other People

Gênero: Experimental, Eletrônica

Para quem gosta de: Darkside e Leon Vynehall

Ouça: Agua pa fantasmas e Song of Hope

8.2
8.2

Nicolas Jaar: “Piedras 1” / “Piedras 2”

Ano: 2024

Selo: Other People

Gênero: Experimental, Eletrônica

Para quem gosta de: Darkside e Leon Vynehall

Ouça: Agua pa fantasmas e Song of Hope

/ Por: Cleber Facchi 08/11/2024

Filho de um dos mais notórios críticos ao domínio imperialista dos Estados Unidos, o artista chileno Alfredo Jaar, Nicolas Jaar sempre manteve um forte discurso político em grande parte de suas composições. Basta voltar os ouvidos para músicas como No, parte do provocativo Sirens (2016), para perceber a forma como o produtor nova-iorquino sempre buscou tensionar a experiência do ouvinte, levando para dentro de cada novo trabalho de estúdio temáticas bastante pertinentes como repressão, censura e a busca por libertação.

Vem justamente dessa abordagem contestadora o estímulo para o denso repertório de Piedras (2024, Other People). Inicialmente pensado como um concerto em homenagem às vítimas da brutal ditadura de Augusto Pinochet no Chile, o trabalho foi aos poucos sendo expandido no que o artista batizou de Archivos de Radio Piedras, um projeto que combina radionovela, resistência cultural, música eletrônica e a força da memória.

Conceitualmente dividido em duas partes, o trabalho concentra no que ficou estabelecido como Piedras 1 sua porção mais interessante. Enquanto os versos partem de um olhar atento sobre o passado recente da história chilena, reforçando a dor e a saudade daqueles que perderam entes queridos durante o domínio de Pinochet, fragmentos eletrônicos e texturas sintéticas ampliam os limites da obra. É como uma extensão daquilo que o artista havia testado há quatro anos, durante o lançamento de Cenizas (2020) e Telas (2020). 

Claro que isso não interfere na construção de faixas que levam o disco para outras direções, reforçando a relação do artista com as pistas. São composições contrastantes, como Agua Pa Fantasmas, que utilizam de componentes regionais, como a cumbia, porém, crescem no incessante atravessamento de informações que vai da IDM ao techno. A própria música de encerramento, Song of Hope, com suas batidas, vozes e melodias que evocam o trabalho de Bon Iver é outra que chama a atenção pela completa delicadeza dos elementos.

Pena que essa mesma pluralidade de ideias não se aplique à porção seguinte do trabalho, Piedras 2. Salve exceções, como a brilhante sequência de fechamento composta por SSS1, SSS2 e SSS3, tudo gira em torno de um limitado conjunto de elementos. Canções profundamente atmosféricas, quase paisagísticas, como se dependessem das sobreposição de vozes que caracterizam a versão inicial de Archivos de Radio Piedras.

Ainda assim, notável é o refinamento estético e capacidade do produtor em preservar a própria identidade mesmo nos momentos de maior calmaria da obra. Na contramão de outros artistas inclinados à criação de registros atmosféricos, Jaar mantém sempre um elemento de desconforto. São ruídos, quebras e pequenas mudanças de percurso que traduzem musicalmente aquilo que o compositor busca destacar com o pano de fundo temático do material: o rastro de sangue e o cruel impacto do fascismo em qualquer sociedade.

Ouça também:

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.