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Crítica

Nuven

: "Zero"

Ano: 2023

Selo: Independente

Gênero: Eletrônica

Para quem gosta de: Four Tet e Caribou

Ouça: Heartbeat, Voices e Dreams

8.2
8.2

Nuven: “Zero”

Ano: 2023

Selo: Independente

Gênero: Eletrônica

Para quem gosta de: Four Tet e Caribou

Ouça: Heartbeat, Voices e Dreams

/ Por: Cleber Facchi 05/05/2023

Os sete longos anos que separam Partir (2016) do recém-lançado Zero (2016, Independente) foram bem aproveitados por Gustavo Teixeira, o Nuven. De remixes para nomes como E A Terra Nunca Me Pareceu Tão Distante a encontros com outros artistas, como Odoya, no ainda recente Fenda EP (2022), sobram momentos em que o produtor paulistano se permitiu testar os limites da própria criação, avançando em meio a registros marcados pelo experimentalismo, porém, preservando o caráter dançante. Um catálogo de pequenos ensaios que, de um jeito ou de outro, converge para o material que integra o presente álbum.

E isso fica mais do que evidente quando a introdutória Grazed é apresentada ao público. Entre camadas de sintetizadores e fragmentos de vozes, Teixeira prepara o terreno para o que se completa pelo uso das batidas. São pequenos atravessamentos de informações, como uma combinação natural do que há de mais característico no tipo de som que vem sendo produzido pelo artista. Entretanto, mais do que olhar para a própria criação, Nuven busca estreitar laços com outros movimentos e produtores, como na faixa seguinte, Heartbeat, música que aponta para o mesmo lo-fi house de nomes como Ross from Friends e DJ Seinfeld.

E ela não é a única. Em Rolling, por exemplo, Texeira usa os mais de três minutos da canção para brincar com as possibilidades. Das batidas que fazem lembrar de Windowlicker, do Aphex Twin, passando pelo uso de vozes submersas e sintetizadores sempre destacados, cada fragmento da composição parece pensado para jogar com a interpretação do ouvinte. Um labirinto de sons e sensações que ainda abre passagem para a música seguinte, a já conhecida Control, faixa que atravessa o pop dos anos 1980 para invadir o mesmo território de nomes como The Knife,ampliando significativamente os limites do trabalho.

Claro que nem todas as composições partilham do mesmo refinamento estético. Chill, como o próprio título aponta, segue uma abordagem contida, passando quase despercebida em uma primeira audição. Nada que Maker, vinda logo em sequência, não dê conta de solucionar. Inaugurada em meio a ambientações contidas, a faixa aos poucos revela o uso calculados das batidas e texturas que apontam para o campo do etéreo, como uma criação perdida do Boards of Canada. É como um preparativo para o que se articula na canção seguinte, Eyes, música que posiciona as batidas em primeiro plano, sempre de maneira detalhista.

Entretanto, é quando rompe com qualquer traço de conforto que Teixeira garante ao público algumas de suas melhores criações. É o caso de Voices. Partindo de uma base ruidosa, a canção encolhe e cresce a todo instante. Pouco menos de quatro minutos em que Nuven atravessa as pistas para mergulhar em um ambiente abstrato que se completa por transmissões de um anúncio publicitário. A mesma combinação de elementos acaba se refletindo na música seguinte, Nevermore, faixa que reforça os temas dançantes do disco na mesma medida em que assume diferentes formatações, indicativo da versatilidade do produtor.

Com a chegada de Obscuro, Teixeira encaminha o trabalho para o encerramento, porém, esbarra em uma composição marcada pela economia excessiva dos elementos, conceito que segue até a faixa seguinte, Onda, com suas ambientações que vez ou outra destacam o uso das guitarras. É como uma curva leve para o que se revela de forma ainda mais interessante na derradeira Dreams. Com menos de dois minutos, a canção destaca a capacidade do produtor em combinar diferentes elementos, como batidas, sintetizadores e vozes de forma sempre minuciosa. Um lento desvendar de informações que não apenas pontua o disco com excelência, como sintetiza a riqueza de detalhes que há tempos orienta as criações do produtor.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.