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Crítica

Odradek

: "Liminal"

Ano: 2022

Selo: Balaclava Records

Gênero: Rock Alternativo, Math Rock

Para quem gosta de: Taco de Golfe e Hurtmold

Ouça: Irene Noir e Canary Wharf

8.0
8.0

Odradek: “Liminal”

Ano: 2022

Selo: Balaclava Records

Gênero: Rock Alternativo, Math Rock

Para quem gosta de: Taco de Golfe e Hurtmold

Ouça: Irene Noir e Canary Wharf

/ Por: Cleber Facchi 13/07/2022

É impossível prever qualquer tipo de movimento assumido pelos integrantes da Odradek em Liminal (2022, Balaclava Records). Terceiro e mais recente trabalho de estúdio do grupo formado pelos músicos Tomas Gil (baixo), Fabiano Benetton (guitarra) e Caio Gaeta (bateria), o registro transita por entre estilos de forma instável, ainda que cuidadosamente calculada pelos membros da banda. Composições que colidem ideias, ritmos e referências em um ambiente pensado de forma a tensionar a experiência do ouvinte, proposta que acaba se refletindo até os últimos acordes de Segue Anexo (We Don’t Go To Ravenholm).

Entretanto, antes de alcançar a composição de encerramento, a jornada proposta pelo trio de Piracicaba reserva boas surpresas. Logo na abertura do trabalho, em Irene Noir, parte expressiva dos elementos que caracterizam o registro são apresentados ao ouvinte de forma bastante eficiente. São guitarras labirínticas, costuras eletrônicas, efeitos e batidas que se entrelaçam em uma abordagem sempre violenta. É como se cada integrante transportasse para dentro de estúdio a mesma urgência explícita nas apresentações ao vivo da banda, inviabilizando possíveis respiros instrumentais ou mesmo momentos de maior calmaria.

De fato, das poucas vezes em que o trio desacelera, Liminal sustenta nessa serenidade passageira um alicerce para a construção de momento de maior grandeza e completo delírio criativo. Exemplo disso fica bastante evidente em Tudo O Que Roseane Whammynson Fala, Eu Faço, sétima composição do disco. Passada a sequência de abertura, que se ergue como um bloco de ruídos e batidas fortes, a faixa quase silencia para voltar ainda mais intensa minutos à frente. São estruturas pouco usuais que preservam a essência dos antigos trabalhos da banda, porém, partindo de uma linguagem sempre atualizada, torta.

Parte desse resultado vem do próprio processo de feitura do trabalho. Com as primeiras gravações realizadas ainda em 2019, o registro teve de ser interrompido com o avanço da pandemia de Covid-19. Nesse intervalo, o produtor e ex-baixista Franco Torrezan aproveitou para retocar o material. Não por acaso, o grupo garante ao público uma obra que se revela por completo logo em uma primeira audição, mas que parece maior e ainda mais interessante quando observada em detalhes. São incontáveis camadas instrumentais, texturas e vozes abafadas que parecem escondidas por entre as brechas de cada canção.

Primeira composição do trabalho a ser apresentada ao público, Canary Wharf funciona como uma boa representação desse resultado. Pouco mais de quatro minutos em que o ouvinte é convidado a se perder em um cenário marcado pelo permanente atravessamento de informações, quebras e costuras rítmicas. Instantes em que o trio paulista vai de encontro ao mesmo território criativo de estrangeiros como Black Midi e Squid, porém, preservando a própria identidade. São canções que encolhem e crescem a todo instante, conceito reforçado na potência de Trovare Mascaryn e no experimentalismo de Liminal Spaces.

Livre de qualquer traço de conforto, Liminal sobrevive como uma obra que exige ser revisitada pelo ouvinte. Mesmo que seja possível estabelecer pequenas relações com uma série de registros ainda recentes, efeito da direção estética que aponta para a cena inglesa, tudo gira em torno de um universo bastante característico, próprio do grupo piracicabano. Do momento em que tem início, na já citada Irene Noir, cada canção abre passagem para um novo território criativo. É como uma intensa combinação de elementos que estranhamente seduz, confunde e provoca o ouvinte durante toda a execução do material.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.