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Crítica

Oliver Sim

: "Hideous Bastard"

Ano: 2022

Selo: Young

Gênero: Indie Pop, R&B,

Para quem gosta de: The xx e James Blake

Ouça: GMT, Fruit e Romance With a Memory

7.3
7.3

Oliver Sim: “Hideous Bastard”

Ano: 2022

Selo: Young

Gênero: Indie Pop, R&B,

Para quem gosta de: The xx e James Blake

Ouça: GMT, Fruit e Romance With a Memory

/ Por: Cleber Facchi 16/09/2022

Eu sou feio“. Isso é a primeira coisa que ouvimos em Hideous Bastard (2022, Young) aguardada estreia de Oliver Sim, um dos integrantes do The xx, em carreira solo. Entretanto, por mais dolorosa que possa parecer a confissão do cantor e compositor britânico, cada fragmento do registro de dez faixas nasce como parte de um importante processo de transformação, cura e autoaceitação. “Mas eu não sinto como se tivesse tido azar / Eu tenho pessoas na minha vida que realmente me amam“, detalha minutos à frente, na mesma canção, indicando tudo aquilo que busca desenvolver de forma bastante sensível ao longo da obra.

Como indicado pelo próprio artista durante o processo de apresentação do trabalho, Hideous Bastard nasce como um produto das inquietações e experiências de Sim como pessoa que vive com HIV desde os 17 anos. São canções que funcionam como um passeio pela mente do compositor britânico, porém, estabelecem em questões universais, como a forte sensação de deslocamento, medo e necessidade de seguir em frente, um precioso componente de interação com o ouvinte. É como uma extensão ainda mais sensível e dolorosa do lirismo confessional que há tempos marca as criações do artista no The xx.

Não por acaso, Sim escolheu o parceiro de banda, Jamie XX, para assumir a produção do material. O resultado desse processo está na entrega de um repertório que preserva e sutilmente perverte a essência do artista britânico durante toda a execução do trabalho. São canções que partem de uma abordagem reducionista, porém, ganham novas camadas e crescem de forma a transportar o ouvinte para um novo e sempre inusitado território criativo. A própria Romance With A Memory, com suas batidas destacadas e vozes carregadas de efeitos, funciona como uma boa representação dessa busca por novas possibilidades.

Dentro desse espaço marcado pelo permanente cruzamento de informações, interessante perceber a forma como o próprio Jamie acaba pautando algumas das canções apresentadas por Sim em estúdio. Oitava faixa do disco, GMT é um bom exemplo disso. Enquanto os versos se aprofundam em conflitos sentimentais (“Mas quem diabos sou eu? / Eu tenho sentimentos suficientes para dois / Eu posso amar esta cidade enquanto sinto sua falta“), fragmentos nostálgicos extraídos da obra de Brian Wilson servem de base para a composição que parece saída do primeiro álbum do produtor em carreia solo, o elogiado In Colour (2015).

Nada que diminua o impacto e domínio criativo de Sim em relação ao próprio trabalho. E isso se reflete até a composição de encerramento do registro, Run The Credits. “Assassino psicopata em uma comédia romântica / Cenas finais de uma trilogia de uma década / Execute os créditos, deixe-os chover em mim / Até Romeu morre na cena final“, detalha em meio a versos que se conectam a Unreliable Narrator, entregue minutos antes, reafirmando a imagem do artista como grande protagonista de Hideous Bastard. Canções que orbitam um universo bastante particular, porém, sempre acessíveis, íntimas do ouvinte.

Delicado exercício de exposição sentimental, Hideous Bastard evidencia o esmero de Sim durante toda sua execução. São canções que começam pequenas, porém, crescem na força das vozes e conflitos intimistas detalhados pelo cantor. Claro que isso não exime o repertório da forte similaridade entre os temas abordados dentro de cada faixa e parcial ausência de surpresa, afinal, algumas das composições mais expressivas do registro foram previamente apresentadas ao público nos últimos meses. Pequenos tropeços e momentos de maior desequilíbrio, mas que em nenhum momento diminuem a grandeza do material.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.