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Crítica

Omar Apollo

: "God Say No"

Ano: 2024

Selo: Warner

Gênero: R&B

Para quem gosta de: Steve Lacey e Kali Uchis

Ouça: Empty, Plane Trees e Life's Unfair

7.3
7.3

Omar Apollo: “God Say No”

Ano: 2024

Selo: Warner

Gênero: R&B

Para quem gosta de: Steve Lacey e Kali Uchis

Ouça: Empty, Plane Trees e Life's Unfair

/ Por: Cleber Facchi 15/07/2024

Desde que se revelou como um homem homossexual, Omar Apollo tem mergulhado em temas voltados à própria sexualidade e outros conflitos antes internalizados, mas que se projetam de maneira cada vez mais explícita. Foi assim com o introdutório Ivory (2022), material em que se expôs por completo pela primeira vez, além, claro, do EP complementar Live For Me (2023), apresentado meses mais tarde, mas que alcança melhor resultado em God Say No (2024, Warner), segundo e mais recente trabalho de estúdio do cantor.

Assim como no registro que o antecede, o novo álbum se aprofunda em conflitos sentimentais, momentos de maior angústia e desilusões vividas por Apollo. A diferença está na forma como o artista utiliza de uma abordagem ainda mais expositiva, estreitando laços com o ouvinte de maneira bastante sensível. “Eu tentei ser alguém que você gostava / Mas é muito compromisso / Tenha cuidado comigo“, canta na introdutória Be Careful with Me, música que antecipa parte dos temas que serão explorados pelo cantor ao longo da obra.

São versos que tratam sobre amores passageiros e a incapacidade de construir relações duradouras. “Eu teria me casado com você / Mas você não vai viver assim / Porque você tinha vidas para escolher“, canta em Life’s Unfair, outra importante e delicada representação das temáticas que embalam a experiência do ouvinte. É como um mergulho na mente e inquietações de Apollo, conceito reforçado em preciosidades como a bilíngue Empty, composição que soa como uma interpretação reducionista do trabalho de Rosalía.

Embora monotemático e talvez imerso em conflitos sentimentais exaustivamente explorados nos trabalhos anteriores, chama a atenção a capacidade de Apollo em transitar por diferentes sonoridades como forma de romper com possíveis traços de previsibilidade. Em Less Of You, por exemplo, são sintetizadores em destaque que levam o R&B do cantor para outras direções, mirando no pop dos anos 1980. Essa maior fluidez, porém, utilizando de um direcionamento diferente, também reverbera com frescor em Drifting.

O problema é que para cada boa canção que amplia os limites da obra, surgem outras duas ou mais que causam desconforto pela excessiva similaridade com as criações de outros artistas. Difícil não lembrar de Frank Ocean em Blonde (2016) ao ouvir músicas como Dispose of Me e How. Enquanto a primeira emula as guitarras de Self Control, a segunda parece replicar o flow e atmosfera de Solo. Surgem ainda faixas como Spite, um amálgama daquilo que nomes como Miguel e Steve Lacy testaram ao longo da última década.

Entretanto, como indicado durante toda a execução de God Say No, o cantor busca perverter essa falta de originalidade com a apresentação de um material profundamente expositivo e liricamente honesto. Mesmo quando estreita laços com outros artistas, como Mustafa, em Plane Trees, e Pedro Pascoal, na canção que leva o nome do ator, difícil não se emocionar com a fina tapeçaria poética tecida pelo artista. Um agridoce exercício de entrega que ajuda a formatar e pouco a pouco revelar o que se esconde no coração de Apollo.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.