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Crítica

Omar Apollo

: "Ivory"

Ano: 2022

Selo: Warner

Gênero: R&B

Para quem gosta de: Kali Uchis e Frank Ocean

Ouça: Bad Life, Invincible e Go Away

7.8
7.8

Omar Apollo: “Ivory”

Ano: 2022

Selo: Warner

Gênero: R&B

Para quem gosta de: Kali Uchis e Frank Ocean

Ouça: Bad Life, Invincible e Go Away

/ Por: Cleber Facchi 18/04/2022

O tempo trouxe benefícios consideráveis para a obra de Omar Apollo. Em atuação desde o fim da década passada, quando chamou a atenção do público com músicas como Pram e Ugotme, o cantor, compositor e multi-instrumentista norte-americano tem buscado por novas possibilidades dentro e fora de estúdio. São registros particulares e colaborações com diferentes artistas, como um preparativo para o material entregue em Ivory (2022, Warner), estreia em uma grande gravadora e produto final de um intenso processo de amadurecimento criativo, estético e sentimental vivido pelo músico nos últimos anos.

Não por acaso, ao mergulhar no presente álbum, cada composição utiliza de uma abordagem bastante característica, como um acumulo natural de tudo aquilo que tem sido explorado pelo artista desde o início da carreira. Canções em que estreita a relação com as raízes latinas, como a delicada En El Olvido, porém, sempre seguidas de registros marcados pelo forte aspecto comercial e diálogo com o pop, caso de Tamagotchi, colaboração com Pharrell Williams. Um ziguezaguear de ideias, ritmos e referências que embala a experiência do ouvinte até a música de encerramento do trabalho, a melancólica Mr. Neighbor.

Embora regido pela criativa combinação de elementos, Ivory emana consistência durante toda sua execução. A exemplo do que havia testado no registro anterior, Apolonio (2020), o músico se concentra na produção de um repertório marcado pela minuciosa costura das guitarras e timbres que reforçam a identidade sonora de Apollo. Exemplo disso fica bastante evidente na já conhecida Invincible, parceria com Daniel Caesar em que não apenas apresenta parte da estrutura que serve de sustento ao trabalho, como confessa referências, esbarrando vez ou outra na obra de veteranos como Prince e Rick James.

Dentro desse território marcado pela forte particularidade dos elementos, cada composição parece trabalhada de forma a explorar os sentimentos mais profundos, dores e inquietações de Apollo. São momentos de maior vulnerabilidade e entrega emocional, conceito que tem sido explorado desde os primeiros registros autorais, porém, de forma ainda mais sensível e intimista. “Ele me mostrou meu rosto, então eu afrouxei meu nó / Uma sombra desceu, me disse que eu vivo uma mentira“, canta em Petrified, música que sintetiza parte das angústias compartilhadas pelo artista durante toda a execução do álbum.

Se por um lado essa permanente entrega de Apollo contribui para o fortalecimento do disco, por outro, limita o trabalho a um repertório monotemático. São canções de (des)amor, romances passageiros e momentos de abandono, como se o artista desse voltas em torno de um mesmo conjunto de ideias e experiências sentimentais. Um exercício criativo que poderia facilmente cair em desgaste, porém, parece solucionado pela colorida combinação de ritmos e colaboradores que surgem ao longo da obra. É o caso da amiga Kali Uchis, com quem divide Bad Life, um dos momentos de maior vulnerabilidade do registro.

Delicado, como tudo aquilo que define a produção de Apollo, Ivory funciona como um precioso exercício de apresentação e consolidação da identidade artística do músico. Enquanto composições como Petrified evidenciam o que há de mais sensível no processo de criação do artista, outras como Go Away, com suas melodias e versos cantaroláveis, aproximam o trabalho de um resultado cada vez mais acessível, capaz de dialogar com uma parcela ainda maior do público. Canções marcadas pelo equilíbrio do cantor, tratamento explícito no repertório entregue em Apolonio, porém, potencializado com a entrega do presente disco.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.