Image
Crítica

Pabllo Vittar

: "Noitada"

Ano: 2023

Selo: Sony Music

Gênero: Pop

Para quem gosta de: Gloria Groove e Anitta

Ouça: Cadeado, Descontrolada e Culpa do Cupido

6.8
6.8

Pabllo Vittar: “Noitada”

Ano: 2023

Selo: Sony Music

Gênero: Pop

Para quem gosta de: Gloria Groove e Anitta

Ouça: Cadeado, Descontrolada e Culpa do Cupido

/ Por: Cleber Facchi 21/02/2023

Contraponto soturno ao pop ensolarado que embala o repertório de Batidão Tropical (2021), Noitada (2023, Sony Music) destaca a urgência das batidas e transporta o som de Pabllo Vittar para um novo território criativo. Quinto e mais recente trabalho de estúdio da artista maranhense, o registro de onze faixas segue a trilha apontada em 111 (2020), porém, de forma ainda mais intensa e marcada pelo forte aspecto colaborativo. São composições que avançam noite adentro, como um convite irrecusável a se perder em um cenário marcado pelos excessos, romances passageiros e momentos de doce melancolia.

Passado o introdutório texto de abertura, AMEIANOITE, parceria com Gloria Groove, arremessa o ouvinte para dentro do disco. Pouco menos de três minutos em que a dupla desfila em meio a bases cíclicas e batidas que vão das pistas ao funk carioca em uma deliciosa combinação de elementos. É como um preparativo para o que se revela de maneira ainda mais frenética em Descontrolada. Completa pela participação de MC Carol, a canção destaca o que há de melhor e mais caótico no som produzido pelos parceiros da Brabo e Ruxell, esbarrando no mesmo pop ruidoso de nomes como 100 gecs e Charli XCX.

Esse mesmo direcionamento acaba se refletindo na canção seguinte, Calma Amiga, um interlúdio que se completa pelas batidas de DJ RaMeMes e breve participação de Anitta. A artista carioca ainda assume parte dos vocais na terrível Balinha de Coração, um pop esquizofrênico, infantilizado e de letra sofrível, soando como um remix abortado do TikTok. A própria estrutura da composição, crescente e totalmente frenética nos minutos finais, soa como uma repetição pouco interessante de tudo aquilo que a cantora apresenta na abertura do disco. Nada que Cadeado, vinda logo em sequência, não dê conta de solucionar.

Composição que mais se aproxima do material entregue Batidão Tropical, a faixa concentra todos os elementos que fizeram da artista maranhense um dos nomes mais interessantes do pop atual. Da letra marcada pelo duplo sentido (“Tranquei meu coração, botei um cadeado / Pena que ele é fraco e quando olha pra você já abre fácil“), passando pelo diálogo atualizado com o brega, difícil não se deixar seduzir. Mais do que um ato isolado, a canção de menos de três minutos, uma constante dentro do trabalho, abre passagem para a segunda metade do disco, onde residem algumas das melhores músicas de Noitada.

São canções que apontam para a música produzida no Norte e Nordeste do país, porém, de forma sempre particular, reforçando o bom-humor presente nas letras. Exemplo disso fica bastante evidente com a chegada de Derretida, mas que alcança melhor resultado em Culpa do Cupido. “Foi culpa do cu, foi culpa do cu / Foi culpa do cupido“, brinca. Esse mesmo jogo de palavras acaba se refletindo em Penetra, faixa que cresce na participação do músico baiano O Kannalha. Quem também divide parte parte dos versos com a artista é MC Tchelinho, convidado em Apetitosa, criação que mais parece um interlúdio de tão efêmera.

Essa curta duração entre as faixas, direcionamento também evidente nos registros anteriores, talvez seja um dos principais problemas envolvendo o processo de produção do álbum. São composições que se encerram tão rápido quanto são apresentadas, soando como esboços ou mesmo versões incompletas. A própria similaridade entre as músicas, principalmente no bloco inicial, parece contribuir ainda mais para esse resultado que orienta a experiência do público até os minutos finais do disco, em After. É como uma interpretação apressada de tudo aquilo que a cantora havia testado nos últimos trabalhos, proposta que diminui consideravelmente o impacto e a possibilidade de apego do ouvinte em boa parte das canções.

Ouça também:

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.