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Ano: 2022

Selo: Domino

Gênero: Pop Psicodélico

Para quem gosta de: Animal Collective e Avey Tare

Ouça: Edge of the Edge e Go On

8.0
8.0

Panda Bear & Sonic Boom: “Reset”

Ano: 2022

Selo: Domino

Gênero: Pop Psicodélico

Para quem gosta de: Animal Collective e Avey Tare

Ouça: Edge of the Edge e Go On

/ Por: Cleber Facchi 17/08/2022

Noah Lennox nunca escondeu o fascínio pela música produzida entre os anos 1950 e 1960. Seja como integrante do Animal Collective, com quem deu vida ao cultuado Merriweather Post Pavilion (2009), em que destaca o uso das harmonias de vozes, ou nos registros como Panda Bear, onde referenciou nomes como The Beach Boys, Sam Cooke e Roy Orbison no álbum Person Pitch (2007), sobram composições que conduzem o ouvinte em direção ao passado. Nada que se compare ao repertório entregue em Reset (2022, Domino), mais recente criação do artista estadunidense em colaboração com Peter Kember, o Sonic Boom.

Parceiros há mais de uma década, quando Lennox convidou Kember a masterizar as canções de Tomboy (2011) e, posteriormente, a produzir o psicodélico Panda Bear Meets the Grim Reaper (2014), os dois decidiram vasculhar o acervo do produtor britânico em busca de músicas empoeiradas de doo-wop e outras velharias marcadas pelo refinamento dos arranjos, melodias e vozes. São retalhos instrumentais de faixas originalmente lançadas por nomes como The Everly Brothers, The Drifters e The Troggs, mas que ganham novo tratamento nas bases cíclicas e ambientações lisérgicas assinadas em conjunto pela dupla.

Escolhida como canção de abertura do trabalho, a empoeirada Gettin’ To The Point funciona como uma boa representação desse resultado. Utilizando de trechos de Three Steps to Heaven, composição de Eddie Cochran que alcançou o topo das paradas inglesas no início da década de 1960, Lennox e Kember se aprofundam na construção de uma faixa que ganha novas camadas a cada movimento da dupla. São vozes sobrepostas, sintetizadores e efeitos que parecem dançar na cabeça do ouvinte. Um misto de passado e presente, estrutura que acaba se refletindo até a entrega da derradeira Everything’s Been Leading to This.

Embora parta de uma abordagem bastante específica, utilizando da construção de bases cíclicas, Reset está longe de parecer uma obra repetitiva. Parte desse resultado vem da própria seleção das músicas revisitadas pelos dois artistas, além, claro, da capacidade de Kember, que já trabalhou com nomes como Beach House e MGMT, em ampliar os limites de cada canção em estúdio. Exemplo disso acontece em Edge Of The Edge, composição que parte de uma abordagem deliciosamente nostálgica, mas que ganha novas tonalidades à medida que camadas de sintetizadores se entrelaçam em uma ambientação cósmica.

Esse mesmo caráter transcendental fica ainda mais evidente na série de faixas em que os dois artistas se distanciam do uso de samples para assumir integralmente a construção dos arranjos. É o caso de In My Body. São pouco menos de quatro minutos em que Lennox e Kember evocam o trabalho de Brian Wilson, porém, partindo de uma abordagem totalmente atualizada. São ambientações e efeitos que apontam para o material entregue pelo próprio Sonic Boom em All Things Being Equal (2020), estrutura que acaba se refletindo em diversos outros momentos ao longo da obra, como em Whirlpool e na delirante Everyday.

Referencial e genuíno na mesma proporção, Reset concentra o que há de melhor e mais característico no som produzido por Panda Bear e Sonic Boom. São canções como Go On e a já citada Edge Of The Edge que conduzem o ouvinte em direção ao passado, porém, adornadas por incontáveis camadas instrumentais e estruturas pouco convencionais que tensionam os limites da obra. É como um precioso cruzamento de informações que não apenas revela algumas das principais influências de Lennox e Kember, como potencializa tudo aquilo que os dois artistas têm explorado em seus próprios trabalhos em carreira solo.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.