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Crítica

Pantha Du Prince

: "Garden Gaia"

Ano: 2022

Selo: Modern Recordings

Gênero: Eletrônica, Minimal Techno

Para quem gosta de: The Field e DJ Koze

Ouça: Crystal Volcano e Golden Galactic

7.0
7.0

Pantha Du Prince: “Garden Gaia”

Ano: 2022

Selo: Modern Recordings

Gênero: Eletrônica, Minimal Techno

Para quem gosta de: The Field e DJ Koze

Ouça: Crystal Volcano e Golden Galactic

/ Por: Cleber Facchi 15/09/2022

Hendrik Weber, o Pantha Du Prince, viveu um lento processo de transformação ao longo da última década. Passado o lançamento do minucioso Black Noise (2010), trabalho em que condensa uma série de elementos testados no início dos anos 2000, o produtor germânico decidiu investir em um repertório ainda voltado às pistas, porém, marcado pela utilização de componentes orgânicos e novas direções criativas. Um curioso exercício de ruptura estética que culminou nas canções que integram o temático Conference of Trees (2020), obra em que amplia o próprio campo de atuação e busca inspiração na vida secreta das árvores.

Mais recente criação de Pantha Du Prince, Garden Gaia (2022, Modern Recordings) segue de onde o artista parou há dois anos, porém, utiliza de um novo direcionamento criativo. Como indicado logo na imagem de capa do álbum, com uma ilustração que evoca os trabalhos transcendentais da década de 1970, Weber se aprofunda na construção de faixas marcadas pelo uso de temas contemplativos e faixas marcadas pelo forte caráter atmosférico. Escolhida para anunciar a chegada do disco, a derradeira Golden Galactic é um bom exemplo desse resultado. São delicadas camadas de sintetizadores, ambientações e melodias etéreas.

Mesmo quando as batidas são incorporadas com maior destaque, como em Crystal Volcano, Pantha Du Prince em nenhum momento rompe com esse direcionamento contido. São cantos de pássaros, sinos e sobreposições meditativas que resultam na formação de um delicado pano de fundo conceitual. Em Start a New Life, por exemplo, perceba como produtor investe na construção dos arranjos e temas orientais de forma bastante sensível, cercando e confortando o ouvinte. O mesmo tratamento, porém, partindo de uma abordagem fragmentada, volta a se repetir minutos à frente, no experimentalismo imersivo Alles Fühlt.

Entretanto, assim como no material entregue no registro anterior, Weber se concentra na produção de faixas específicas que resgatam as ambientações soturnas e arquitetura sintética dos primeiros álbuns. Sétima composição do disco, Liquid Lights talvez seja a criação que melhor representa essa estrutura. Da construção das batidas, sempre reducionistas, passando pela utilização de pequenos acréscimos, tudo soa como um regresso ao ambiente congelante de Black Noise. Mesmo a sequência de canções editadas por Bendik HK, caso de Blume e Heaven Is Where You Are, parece contribuir ainda mais para esse resultado.

Sobrevive justamente nessa divisão do trabalho em duas porções bastante características o principal defeito de Garden Gaia. É como se Weber fosse incapaz de se decidir entre uma obra marcada pelo caráter atmosférico, ponto de partida para o bloco inicial do disco, e a busca por um repertório que resgata a essência dos antigos registros. A própria distribuição das faixas pelo interior do álbum, sem qualquer tipo de progressão ou amarra conceitual, torna tudo ainda mais confuso. Composições que mais parecem fragmentos aleatórios criados e compilados pelo artista desde a apresentação de Conference of Trees.

Estruturalmente instável, Garden Gaia se revela como um registro talvez menor dentro da discografia de Pantha Du Prince, porém, está longe de parecer um trabalho decepcionante. Como tudo aquilo que Weber tem revelado desde o início dos anos 2000, o álbum de nove faixas em nenhum momento deixa de surpreender pelo refinamento dado às batidas e temas instrumentais. Trata-se apenas de uma obra confusa. Composições que partem de um direcionamento criativo bastante específico, mas que assumem rumos e propostas criativas que invariavelmente tendem a consumir e bagunçar a experiência do ouvinte.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.