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Crítica

Papisa

: "Amor Delírio"

Ano: 2024

Selo: Independente

Gênero: Pop Rock

Para quem gosta de: Tagua Tagua e YMA

Ouça: Amor Delírio e Dores no Varal

7.5
7.5

Papisa: “Amor Delírio”

Ano: 2024

Selo: Independente

Gênero: Pop Rock

Para quem gosta de: Tagua Tagua e YMA

Ouça: Amor Delírio e Dores no Varal

/ Por: Cleber Facchi 26/04/2024

Se Fenda (2019) era um disco voltado pra dentro, explorando questões sobre a morte e a inevitabilidade da passagem do tempo, Amor Delírio (2024, Independente) parece seguir o caminho oposto. Do uso radiante das melodias, passando pela delicadeza e maior fluidez dos vocais, cada mínimo fragmento do segundo e mais recente trabalho de Rita Oliva como Papisa destaca a suavidade poética e sonora da instrumentista. Um repertório entregue ao amor, mas que partilha da mesma complexidade temática do registro anterior.

Eu plantei flores no quintal / Amores no verão / Dores virarão / Roupas no varal“, canta logo nos minutos iniciais, em Dores No Varal, criação em que se despede dos temas soturnos que marcam as composições de Fenda e aponta o caminho para o restante do material. São histórias sobre amores passageiros, porém, sempre marcantes e complexos. Um objeto temático há muito explorado por diferentes artistas, mas que ganha um fino toque de transformação e identidade ao ser incorporado dentro da lógica própria de Oliva.

Exemplo disso fica bastante evidente na própria faixa-título do disco. São versos que usam das estações do ano como marcação metafórica para entender os diferentes momentos, encontros e desencontros de um casal, estímulo para uma infinidade de outras canções, porém, estabelecendo pequenas brechas que se aprofundam nas dores, tormentos e inquietações vividas pelo eu lírico. “Até o outono invadir o verão / E meu suspiro não ser por prazer“, canta Oliva que ainda divide parte dos vozes com a cantora Luiza Lian.

Outro aspecto bastante característico de Amor Delírio diz respeito a forma como a musicista se aprofunda nas relações sem necessariamente depender de uma lógica romântica tradicional, onde tudo é preto no branco. São personagens falhos, emocionalmente confusos e consequentemente reais. “Te machuquei, não foi a intenção / Só percebi quando era tarde / Fiquei com medo, perdi a razão“, confessa em Melhor Assim, composição que sintetiza esse lirismo atormentado e uso de sentimentos conflitantes que conduzem a obra.

Embora marcado pela complexidade dos temas, interessante perceber em Amor Delírio uma leveza poucas vezes antes percebida em obras do gênero. Parte desse resultado vem da escolha da artista em investir no uso de guitarras ensolaradas e melodias que parecem grudar na cabeça do ouvinte logo em uma primeira audição, vide canções como Vai Passar e Corte, faixa que parece vinda de algum trabalho do Tame Impala. É como um delicado exercício criativo, mas que acaba tropeçando em pequenas repetições estruturais.

Com produção assinada por Felipe Puperi, Amor Delírio resgata uma série de componentes, timbres e até mesmo arranjos testados pelo multi-instrumentista não apenas em seu principal projeto, o Tagua Tagua, vide as canções do ainda recente Tanto (2023), como em outras criações em que esteve envolvido, como Sem Necessidade, de Mahmundi. Composições que talvez fossem engolidas pela forte similaridade dos elementos, mas que alcançam um ponto de ruptura e incontável transformação ao fazer dos sentimentos e versos confessionais de Oliva o estímulo para a formação de um repertório que pertence somente à ela.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.