Versos descritivos, paisagens urbanas e personagens de caráter duvidoso que passeiam em meio a diferentes locações da cidade de São Paulo. Do momento em que tem início, em A Música da Mulher Morta, até alcançar a derradeira Cavalieri, esse é o território desbravado por Kiko Dinucci, Rodrigo Campos, Romulo Fróes e Marcelo Cabral no primeiro álbum de estúdio do Passo Torto. Produto das experiências acumuladas por cada integrante da banda em seus diferentes projetos paralelos, o registro que conta com co-produção de Maurício Tagliari, faz de cada composição um objeto isolado. Pequenas crônicas musicadas que encontram no minimalismo dos arranjos a base para repertório que se completa na cabeça do próprio ouvinte.

São personagens mundanos, como em Samuel, música originalmente gravada no primeiro álbum do Metá Metá, ou mesmo versos de amor, caso da agridoce Por Causa Dela. Um bem-sucedido catálogo de ideias que reflete o esmero de cada realizador, conceito que vai da minúcia dos arranjos à formação das letras. “Cidadão, esquizofrênico, rondando na periferia / Às vezes lúcido, infeliz, conforme a luz, conforme o dia / Ouvindo vozes na cabeça, ouvindo Dylan / Vendo rock in roll passar“, canta Fróes enquanto o baixo suculento de Cabral se completa pelos arranjos cíclicos de Campos e Dinucci. Composições com começo e meio, mas nunca fim, como o recortes do cotidiano televisionados pela janela do ônibus ou entre uma estação e outra do metrô.

Este texto faz parte da nossa lista com Os 100 Melhores Discos Brasileiros dos Anos 2010 que será publicada ao longo das próximas semanas. São revisões mais curtas ou críticas reescritas de alguns dos trabalhos apresentados ao público na última década. Leia a publicação original.