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Crítica

Philip Glass

: "Philip Glass Solo"

Ano: 2024

Selo: Orange Mountain

Gênero: Minimalismo, Instrumental

Para quem gosta de: Steve Reich e Brian Eno

Ouça: Mad Rush e Metamorphosis II

8.0
8.0

Philip Glass: “Philip Glass Solo”

Ano: 2024

Selo: Orange Mountain

Gênero: Minimalismo, Instrumental

Para quem gosta de: Steve Reich e Brian Eno

Ouça: Mad Rush e Metamorphosis II

/ Por: Cleber Facchi 20/02/2024

Dono de um extensíssimo repertório que vai de trilhas sonoras para o cinema a performances marcadas pelo reducionismo dos elementos, Philip Glass costuma, de tempos em tempos, revisitar a própria criação. E é exatamente isso que encontramos em Philip Glass Solo (2024, Orange Mountain). Concebido durante o período pandêmico e gravado em casa, no piano em que o músico estadunidense compôs algumas de suas principais criações ao longo das últimas décadas, o trabalho de sete faixas funciona como um delicado exercício criativo que combina prática com o contínuo esforço de Glass em tensionar antigas composições.

Inaugurado por Opening, música originalmente apresentada por Glass como parte do álbum Glassworks (1982), o trabalho estabelece um forte senso de familiaridade na mesma medida em que parece brincar com a interpretação do ouvinte. São movimentos sutis, porém, sempre cristalinos, contrastando com as diferentes abordagens que a mesma composição conquistou ao longo dos anos. É como um preparativo para tudo aquilo que será revelado no decorrer da obra, conceito reforçado com a entrega de Mad Rush.

Composta como uma peça para órgão em 1978, quando o Dalai Lama fez seu primeiro discurso público na cidade de Nova Iorque, a canção de quase 17 minutos destaca a fluidez do pianista mesmo em um espaço conceitualmente limitante. É como uma interpretação atualizada e menos densa em relação ao material entregue pelo pianista em outro trabalho dotado de uma abordagem bastante similar, o álbum Solo Piano (1989). Instantes em que Glass estabelece pequenos percursos instrumentais que seguem a trilha apontada por ele próprio nos primeiros registros da composição em estúdio, porém, pontuado por variações sutis.

Uma vez ambientado ao registro e aos temas instrumentais explorados pelo artista, Glass abre passagem para uma de suas criações mais emblemáticas, a série Metamorphosis. Como o título do material logo aponta, trata-se de uma interpretação do músico sobre a novela A Metamorfose (1915), do escritor tcheco Franz Kafka. Diferente do registro original, também apresentado como parte do já citado Solo Piano, o compositor adota uma postura essencialmente sintética, focando em apenas quatro dos cinco movimentos originais. Nada que pareça diminuir a sensação de impacto proposto a cada novo desdobramento.

Exemplo disso fica bastante evidente com a chegada de Metamorphosis II. Partindo de uma abordagem talvez econômica, a faixa cresce aos poucos, destacando o movimento sublime das notas e sobreposições que, ao longo das décadas, ganharam diferentes interpretações por parte do próprio pianista, poucas tão belas quanto o material entregue no presente registro. Tudo é tratado de maneira tão meticulosa e fluida que Metamorphosis III e Metamorphosis V, vindas longo em sequência, acabam praticamente engolidas, efeito direto do uso de ambientações densas que sutilmente rompem com o ritmo dado ao trabalho.

Embora arrastada, essa curva proposta nos movimentos finais de Metamorphosis é essencial para que o músico encaminhe o repertório para a faixa de encerramento da obra, Truman Sleeps. Uma das criações mais conhecidas do compositor estadunidense, a canção saída da trilha sonora de O Show de Truman – O Show da Vida (1998) deixa de lado o aspecto técnico das criações de Glass para encantar pela força dos sentimentos. É como se o piano pesasse sobre o ouvinte, destacando a carga emocional que se esconde e ao mesmo tempo se revela dentro de cada mínimo fragmento instrumental apresentado pelo pianista.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.